sábado, dezembro 09, 2006

OSSOS SECOS, GALHOS E FLORES



Em Ezequiel 37, conta-se a visão de um vale de ossos secos: Ezequiel é levado pela mão de Deus e colocado no meio de um vale cheio de ossos secos. E Deus mostra a ele que aquilo que parece acabado, ainda tem solução... um estranho barulho começa e os ossos começam a se aproximar uns dos outros, e fáscias, tendões, vasos sanguíneos e músculos começam a surgir e cobrir aqueles ossos... órgãos se formam, pele recobre tudo... unhas e cabelos surgem... Vida onde antes não havia nem esperança!

Penso em quantas vezes me senti assim, no meio de muitos e muitos ossos secos. Sensação de deserto, exílio... Estou vivendo mais um período de ossos secos!

Não quero escrever da teologia do que aconteceu com Ezequiel; nem tenho conhecimento pra tal. Quero fazer um desabafo, lançar minhas lágrimas no vento, andar na beira do mar e sentir a água lavar minha tristeza...

Com quantos ossos secos se faz um deserto?
2006 foi um ano muito difícil pra mim, talvez um dos mais difíceis que já vivi. Repenso o que fiz, o que senti, o que vivi...

Arrependimentos? Alguns, com certeza...

Dores? Muitas...
Lágrimas? Incontáveis... mas quando elas se misturam com a chuva, quase ninguém vê...
Amigos de verdade? Poucos, pouquíssimos… Mas é melhor assim: nesse caso, qualidade é tudo!

Lições? Muitas, mas ainda falta absorver boa parte delas. Mas algumas ficaram gravadas, e foram gravadas a ferro e fogo, queimando, machucando... e devem ficar pra sempre.

Ossos, ossos, ossos… Meu vale anda cheio deles. E muitos vão continuar assim, só ossos secos…

Tem uma música muito antiga, nem sei quem canta, mas que eu gosto muito… o nome é Galhos Secos: “Nos galhos secos de uma árvore qualquer, onde ninguém jamais pudesse imaginar, o Criador vê uma flor a brotar. Olhai: os lírios cresceram no campo, pois o Senhor nosso Deus os tem alimentado para nossa
alegria."

E, assim como nessa música, eu vejo que mesmo em meio a tantos ossos secos, Deus tem feito brotar flores que me alegram o coração e me fazem suportar o silêncio dos ossos imóveis. Não vou citar os nomes, mas cada flor que apareceu no meu vale em 2006 um motivo pra sorrir.

Uma dessas flores me lembrou que só podemos ver bem os montes quando estamos no vale, como aconteceu tantas vezes com o salmista… e que por isso mesmo o vale é importante…

Outra flor me lembrou que quando o povo de Israel foi para mais um exílio (Jeremias 29.4-6), a ordem de Deus foi para que aproveitassem esse período para viver, plantar, construir… O exílio muitas vezes é período de crescimento…

Em uma outra flor eu vejo a alegria de saber que o navio está ancorado logo ali… só falta embarcar… e que a melhor hora do embarque é aquela marcada por Deus...

E tem aquela outra flor, que com um abraço gostoso (mesmo que muitas vezes só enchendo a tela do msn) sempre me faz sorrir...

E algumas outras só com um sorriso ou um olhar dizem tudo...

O silêncio ainda persiste... flores brotando costumam ser bem silenciosas... mas sei que ainda ouvirei o ruído dos ossos...
Onde há Deus (e existe lugar onde não há?), há esperança!

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quarta-feira, novembro 29, 2006

IMAGEM

Essa poesia é da Ana do http://roccana.blogspot.com/ .
Mais uma que eu gostaria de ter escrito...




IMAGEM
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em frente ao espelho
tiro a roupa
jogo tudo no chão
me olho
frente e verso
e me encaro
meu olhar é duro
seios
de quem amamentou
barriga
de quem pariu
pêlos
pernas afastadas
braços soltos
pés no chão
perfil
gosto do que vejo
em frente ao espelho
uma vida inteira
constato
que o espelho, cúmplice,
me sorriu
não pela imagem
que espelhava
mas por tudo
que intuiu
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sexta-feira, novembro 17, 2006

TEMPO


Eu tive a felicidade de nascer num lar cristão... Cresci na igreja... A Bíblia sempre foi livro presente e lido na minha casa. Lembro bem da minha mãe contando como eram os cultos domésticos na casa dela, quando solteira: meus avós reunidos com os treze filhos e com os empregados do sitio do meu avô... e a nossa tentativa de reproduzir aqueles momentos na nossa casa.

Eu, quando criança, raramente perdia um debate de versículos, onde cada participante fala um versículo e quem não sabe, sai da roda, até que só reste uma pessoa. Acho que ter uma boa memória me facilitou muito nisso. Mas decorar não quer dizer aprender.


Mas, por estranho que possa parecer, o livro de Eclesiastes não me despertava interesse nessa época, por mais que eu gostasse de ler o Antigo testamento. Isso só foi acontecer numa aula de inglês, do CCAA. Eu devia estar entrando na adolescência, quando aquele texto em um inglês meio arcaico me chamou atenção. Eu não conseguia entender a explicação da professora para “a time to refrain from embracing” (v. 5). Acabei lendo na Bíblia quando cheguei em casa. Aí consegui pelo menos entender as palavras.

Hoje, passado tanto tempo, acho que finalmente estou aprendendo o significado daquelas palavras. Não especificamente do versículo 5, mas do 1º ao 8º, onde fala sobre o tempo, sobre as fases da vida.

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”


Talvez alguns me critiquem, mas me lembra uma música cantada pelo Lulu Santos: “a vida vem em ondas como o mar” (eu acho que essa parte da letra é de uma poesia do Vinícius de Moraes, não tenho certeza). Aprender que a vida tem ciclos parece simples, mas acho que a maioria das pessoas não aprende assim tão rápido. Com certeza, eu sou uma das que demoraram muito para aprender e às vezes me pergunto se aprendi de verdade ou finjo que aprendi e fico me enganando nem sei porque.


O que sei é que alguns tempos são muito difíceis:
o de morrer (quantas vezes já fiz isso?),
o de matar (tanta coisa precisei matar dentro de mim...),
o de arrancar o que plantamos (quantas coisas que pensei que floresceriam e seriam colhidas tiveram que ser arrancadas?),
o de derrubar (só quem viu a realidade destruir um sonho sabe essa dor),
o de não abraçar (como são frios os braços vazios!)
o de perder, o de rasgar, o de guerra
o do choro, o do pranto (quantas estrelas você consegue ver através das lágrimas?)
o de estar calado (como é difícil calar! como é difícil saber o tempo de calar!)

E todos esses tempos difíceis estão aí para nos mostrar que os tempos bons, aqueles com que a gente vive sonhando, também existem. Muito mais do que isso, eles existem, mas não são necessariamente eternos. O que hoje está aqui, amanhã pode não mais estar. Porém, isso não deve ser visto como a faca do carrasco se aproximando do nosso pescoço. Como seria mais simples agradecermos a oportunidade de sermos felizes hoje, cuidarmos do que temos hoje... Não numa busca louca e irresponsável pelo que nos dá prazer hoje, mas conseguindo viver um dia de cada vez, com suas alegrias e tristezas. E tentar descobrir que cada dor pode trazer um motivo de crescimento assim como cada sorriso nos alimenta a alma.


Uma coisa é certa, apesar de toda a minha ansiedade (que também estou aprendendo a controlar): eu estou muito mais tranqüila para ouvir o tempo. Deixar que ele aja. Saber que a grande maioria das coisas não está sob o meu controle pode ser angustiante, mas, por outro lado, me tira um grande peso. Se eu não posso controlar algo, não adianta ficar me torturando por isso. Deixa o tempo tomar conta.


E aí eu lembro de alguns de ditados populares, que falam sobre o tempo. “O tempo é o melhor remédio.” “Não há mal que o tempo não cure.” “O tempo cicatriza as feridas do corpo e da alma.” E penso numa coisa... acho que muita gente chama Deus de tempo...


Marcia Carvalho

PS.: Meu amigo Roberto Amorim fez um comentário lindo aqui. Leiam, vale a pena!

quinta-feira, novembro 09, 2006

OS VENTOS DO DESTINO

Estou fazendo o curso "Academia da Alma" com o pastor Israel Belo, na Igreja Batista Itacuruçá, aqui pertinho de casa.
Ontem, folheando a apostila, encontrei essa jóia, escrita por uma mulher que viveu há tanto tempo... Essa foto abaixo é dela...




OS VENTOS DO DESTINO
Ella Wheeler Wilcox (1850-1919),
tradução de Israel Belo de Azevedo

Um barco sai para o leste e outro para o oeste
Levados pelos mesmos ventos que sopram:
É a posição das velas,
E não os temporais,
Que lhes dita o curso a seguir.

Como os ventos do mar são os ventos do destino
Quando navegamos ao longo da vida:
É a posição da alma que determina a meta,
E não a calmaria ou a borrasca.

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quinta-feira, outubro 26, 2006

ASSOMBRO



ASSOMBRO


Estou lendo “O Evangelho Maltrapilho”, de Brennan Manning. Ainda não terminei, mas estou saboreando cada página, tão cheia do evangelho da graça!

Tudo o que eu li até agora me faz pensar, refletir... me desperta sentimentos, sensações... Estou me deliciando!

Um dos trechos que me chamou atenção foi o início do capítulo cinco “Biguás e Gaivotas”, onde é contada a história de um rabino, Abraham Joshua Heschel, que no seu leito de morte confessa a um amigo que o que ele tinha pedido a Deus, tinha recebido. Ele pediu assombro, e Deus concedeu.

E começa-se a descrever sobre coisas do cotidiano que hoje não nos causam mais assombro. Perdemos o senso do assombro!

“Já não perdemos o fôlego diante de um arco-íris ou do perfume de uma rosa (...). Ficamos maiores e todo o resto ficou menor, menos impressionante. Tornamo-nos apáticos, sofisticados e cheios de sabedoria do mundo. Não deslizamos mais os dedos sobre a água, não gritamos mais para as estrelas nem fazemos caretas para a lua. Água é H2O, as estrelas foram classificadas e a lua não é feita de queijo. (...)
Ficamos tão preocupados conosco (...) que nos tornamos imunes à glória da criação. Mal notamos a nuvem que passa sobre a lua ou as gotas de orvalho nas folhas da roseira. (...) Evitamos o frio e o calor. Refrigeramos a nós mesmos no verão e sepultamo-nos debaixo de plástico no inverno. Rastelamos cada folha assim que cai (...) nunca paramos pra pensar sobre a liberalidade da criação de Deus. (...) Perdemos a experiência do assombro, da reverência e da maravilha!”

Há quanto tempo eu não parava pra pensar nisso tudo? Logo eu, criada aos pés do Dedo de Deus, o conjunto de montanhas mais incrível – e assombroso - que já vi. Tá na foto aí em cima: uma gigantesca mão apontando para o céu, para cima, para o alto, para o Altíssimo!

Anteontem resolvi passear na Floresta da Tijuca. Beber a água adocicada da fonte. Ver a cachoeira e sentir o spray da água. Ouvir o silêncio da floresta. Borboletas e libélulas. Os raios de sol através das folhas. O tamanduá-mirim. O cheiro do verde. A gruta e mais uma cascata. Outro tamanduá. O açude da solidão.

Ontem eu fui caminhar na pista de cooper da Praia Vermelha, na Urca. Que lugar maravilhoso, bem no encontro do mar com as montanhas! As ondas batendo nas pedras. O barulho gostoso da água. O cheiro bom do mar. A cor da água, um verde-jade inesquecível. A linha do horizonte misturando céu e mar num azul indescritível.

Quanta coisa assombrosa!

Como disse Davi, no salmo que hoje chamamos de 19, “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos. Um dia fala a outro dia, uma noite fala a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras até os confins do mundo.” (nvi)


Marcia Carvalho
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segunda-feira, outubro 23, 2006

CAIO E A AMARGURA

Recebi esse texto do Caio Fábio numa lista de discussão da qual participo. Gostei tanto que resolvi colocá-lo aqui. Quanta verdade junta!



Nada falsifica mais a realidade e a comunicação do que a amargura.

Quando ela se instala, pela via das machucaduras, das traições, das frustrações, das repetições desagradáveis, ou das muitas acusações recíprocas — nada mais continua a existir objetivamente na visão e na comunicação entre duas pessoas.

É assim até mesmo entre pessoas que se amam, mas que se feriram de alguma maneira.

Na maioria das vezes alguém feriu alguém, e o ferido se magoa profundamente — dependendo do fato, se magoa até a morte —; e se decide continuar a relação porque vê amor naquele que o magoou (embora lhe tenha sido infiel ou desleal, ou estranho), geralmente não consegue ir adiante sem expor sua dor; a qual, quase sempre, no início vem carregada de acusação, mesmo quando não acusa intencionalmente. Entretanto, como o objeto em questão, é o próprio ouvinte-arrependido, ele acaba por se sentir sempre acusado outra vez.

Com o passar do tempo, aquele que feriu a quem ama, também já está ferido e magoado de um outro modo. Ainda que ele (a) saiba que não tem direito de estar. Mas fica assim mesmo. No caso dele tudo começa com a tristeza imensa de ter magoado a quem ama. Depois, a pessoa começa a desejar se sentir diferente de "si mesma" no que tange ao "si mesmo" que provocou a mágoa no outro. Entretanto, como a dor do ofendido e magoado continua naturalmente presente; muitas vezes apesar de já haver perdão (a dor é outra coisa) —; com passar do tempo aquilo que aos ouvidos do ofensor era culpa, começa a soar como acusação sem fim, mesmo quando é apenas a confissão da tristeza pelo que aconteceu.

Nesse ponto o ofensor passar a se irritar e a acusar o outro de não parar de acusá-lo e de vê-lo de modo ruim... Então, instala-se no coração do ofensor uma predisposição a ouvir tudo com tom de acusação.

Ora, quando se chega a esse ponto da "viagem", o sentido de objetividade já entrou em estado de falência; e todos os poderes da subjetividade se tornam os senhores do olhar, do sentir; e, pior, do interpretar. Daqui para frente somente uma intervenção da Graça de Deus os ajudará a sair desse Labirinto de Dês-comunicação! Sim, uma intervenção que gere consciência nos implicados e também lhes revele a existência desse Monstro Invisível.

E mais: que lhes ilumine e revele que de fato tal "ente" que "penetrou" o processo mental e de comunicação deles, é inexistente; posto que somente "existe" como emoção machucada, a qual falsifica tudo; fazendo com que carinhos sejam sentidos como ofensa; fazendo com que tentativas de comunicar, se tornem discussões inexplicáveis; e também fazendo com que toda expressão que não seja clara e objetivamente comunicada como boa, seja sentida pelo outro como uma incógnita ruim; sempre ruim; e sempre contra aquele que ouve e interpreta — ainda que de fato o outro não tenha intentado nada de mal contra aquele que assim ouviu e sentiu.

É aqui que duas pessoas que se amam e não mais conseguem se entender, perguntam-se: o que está acontecendo com a gente? Na realidade, nada está acontecendo, embora tudo pareça acontecer! Afinal, objetivamente, o que tinha de acontecer, já aconteceu. E, supostamente, já está resolvido. Porém, o processo de retro-alimentação relacional (em razão das dores e das machucaduras da alma do ofendido, e em razão da culpa e da vergonha do ofensor), torna-se cada vez mais destrutivo para as emoções dos implicados; e, consequentemente, passa a ser o produtor de boicote na comunicação. O que fazer?

A primeira coisa é entender o processo, conforme simplificadamente exposto acima.

A segunda é colocá-lo em seu lugar: na memória doída, mas que não tem que existir como acusação nem na boca de quem sente a dor, e nem nos ouvidos de quem a provocou.

A terceira é voltarem a crer um no outro, sem interpretações e sem analises.

A quarta é darem objetividade e clareza a cada palavra ou declaração, não somente em relação um ao outro, mas também em relação a tudo; até que a objetividade volte a prevalecer sobre a subjetividade das interpretações adoecidas pela mágoa.

A quinta é não conversar num mundo paralelo, jamais; mesmo que seja em quase silencio ou em silencio; pois para o outro isso pode significar outra coisa; qualquer coisa.

A sexta é coragem de olhar nos olhos do outro, todos os dias, e relembrá-lo de quem ambos são um para o outro. Sim, afirmarem-se mutuamente como pessoas que se amam, apesar de machucadas.

A sétima é não deixar nada aberto, sem definição. Ou seja: não deixar o sol se por sobre nenhuma ira ou mágoa não falada. Mas isto apenas no caso de coisas que não possam ser resolvidas sem uma "conferência" entre ambos.

A oitava é crer que quem se ama, pode se machucar, mas que o amor tem que ser maior que qualquer dor, quando dois decidiram continuar juntos.

A nona é saber que a tendência de um processo desse tipo, é fabricar algo que não é nada, mas que se faz cheio de tudo o que não existe ou não lhe pertence; e, que, portanto, pode se munir de tudo contra ambos; ou um contra o outro. Aqui o diabo e o inferno são os limites; posto que agora, em tal caso, reina a acusação.

A décima é se perdoarem todos os dias; e também perdoarem-se por qualquer que seja a recaída no processo de retro-alimentação da amargura, e que tenha voltado a crescer em razão das "interpretações" que se tornam falsas realidades; mas que têm o poder de matar o que é real e verdadeiro. Por isto, não se pode deixar isto crescer jamais.

O escritor de Hebreus disse que uma raiz de amargura, entrando em alguém, pode contaminar a muitos, a todo um grupo.Ora, se a amargura tem esse poder em relação a uma "congregação", quão maior não é o seu poder de contaminação entre duas pessoas? Ou entre um casal? Ou nas entranhas de uma família?

Assim, eu oro:
Senhor! Dá-nos Tua luz, para que nela sempre vejamos o que é real, sendo assim salvos das miragens do Engano e do Enganador!
Senhor! Ajuda-nos a viver o que é real! Senhor! Que o amor sempre vença todas as falsificações!

Nele, que é a Verdade,
Caio

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sábado, outubro 14, 2006

CARTA DE MIM PRA MIM MESMO

Mais uma do Roberto... ele publicou no blog dele no dia do meu aniversário...
Pode não ter tido a intenção, mas foi um presentão pra mim!
http://www.smalltalk.com.br/blogs/poesia

Carta de mim pra mim mesmo
28 de Setembro de 2006

Olá, não me conheces.
Mas sabes quem fui, o que pensei,
E quando eu ri, quando chorei,
Conheces minha vida e minha história.
Tua memória é minha
Teu futuro, meu passado
Teu anseio, meu cansaço
Do que seria e não fui
Do que serás, pra mim e pra ti.

Se aceitares o conselho
De um velho, todavia,
Eis aqui o que te digo,
O que tu mesmo te dirias:

Vive a vida, é teu presente.
Que futuro e passado não importam;
Só importa o que tu és,
Pois nada mais trago comigo;
O que sou, o que não és,
É também o que me faz ser teu amigo.
Que somos um,
Um só, e o mesmo
E ainda, mesmo assim,
Não me conheces.

Ainda é tempo; e que o tempo,
Esse velho companheiro,
Seja tão só teu amigo,
E não senhor;
Nem do que foi ou que virá,
Nem mesmo do que entre nós persiste;
Nem do tempo que há entre mim e ti,
Nem mesmo do que agora não existe;

Que sejas tal como eu sou
E eu seja tal como tu és
Que venhas a me conhecer
Como eu também conheço a ti.

Até mais ver.

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quinta-feira, setembro 14, 2006

CARTA ABERTA AOS MEUS AMIGOS

Meu aniversário tá chegando... Vai batendo uma melancolia, uma tristeza por ver que estou bem longe do que eu sonhei pra essa fase da minha vida...

Achei esse texto do Gondim; aliás, me foi mostrado por um amigo. Quando li, algumas lágrimas queriam sair, mas consegui me conter e acho que nem esse amigo, que estava do meu lado, conseguiu perceber.

Pra quem reclama a falta de textos meus, eu peço desculpas e paciência. Tenho muita coisa pra colocar pra fora, mas preciso primeiro deixar as ondas se acalmarem, ou, pelo menos, conseguir fixar o olhar no horizonte, apesar do barco balançar tanto.

Bem, espero que gostem...



Carta aberta aos meus amigos.

Ricardo Gondim

Ando carente e vulnerável. Preciso reafirmar-lhes, meus amigos, como necessito de vocês e como não agüentaria mais perder nenhum colega.

Por favor, cuidem-se. Entendo que a maioria de vocês não fuma, não bebe exageradamente e sabe dos malefícios do colesterol. Não, não falo desse cuidado periférico. Peço que cuidem da alma. Procurem aprender a gostar de música clássica (as vacas leiteiras já aprenderam). Leiam romances, novelas, ficção científica, poesia. Lembro-lhes que a estrada para os manicômios está pavimentada de teses argumentativas e debates intermináveis sobre as minúcias filosóficas e questiúnculas teológicas. Há pouco, visitei um amigo internado numa clínica. Imaginem minha tristeza quando o vi repetindo para as paredes, que descobrira o significado do número 666 do Apocalipse.

Por favor, fujam do pecado. Não, não me refiro às tentações menores que já catalogamos em nossos manuais religiosos de santidade. Lembrem-se que a maior de todas as desgraças está ligada ao poder. Na oração do Pai-Nosso, Jesus nos ensinou a pedir que Deus não nos deixasse cair em armadilhas, mas nos livrasse do mal. Dizem os melhores exegetas que a cláusula final que os protestantes citam - “Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre” – não fazia parte da prece original. Eles afirmam que algum escriba, anos depois, resolveu dar sua interpretação para o significado daquele “mal” que deveríamos pedir para ser livres. Quando afirmamos que “teu é o Reino, o poder e a glória”, estaríamos reconhecendo que o mal mais horroroso é a cobiça do poder. Aceitem a interpretação desse monge anônimo e guardem em mente que o anel de Tolkien é perigosíssimo. Nunca esqueçam que nossa mãe também deixou de mergulhar nosso calcanhar nas águas sagradas e até o Super-homem era vulnerável.

Por favor, não queiram ser candidatos na política; não tolero imaginar-lhes em camburões da Polícia Federal. Evitem andar de motocicleta. Não parem em sinal de trânsito tarde da noite. Cuidado ao nadarem em praias infestadas de tubarão. Aos amigos homens, sugiro: abandonem o paletó e a gravata. Às mulheres, advirto: não apliquem botox nos lábios. Companheiros, nunca, em hipótese nenhuma, tinjam seus cabelos.

Por favor, lembrem-se que as duas únicas dimensões de vida que dispomos são o passado e o futuro. O futuro se transforma tão velozmente em passado que nunca desfrutamos do presente. Viver se resume na esperança do porvir ou na lembrança do pretérito. Toda esperança mal antecipada pode transformar-se em ansiedade; e toda saudade, acabar em melancolia. Cada qual terá sempre que decidir como vai encarar seu futuro e como tratará sua memória. Não atrofiem a alma com ansiedades nem com melancolias.

Estou envelhecendo. Pressinto que necessito cuidar de meus amigos, mantendo-os em forma; eles me ajudarão nessa última etapa de minha jornada.

Portanto, cuidem-se, eu preciso muito de vocês.

Com carinho,

Ricardo
Soli Deo Gloria.

quinta-feira, setembro 07, 2006

UM SONETO DE D. PEDRO I

Olhem só o que descobri: um soneto que D. Pedro escreveu quando ficou viúvo...


À Sempre para Mim Sentida Morte
da Minha Adorada Esposa a ...



Deus Eterno por que me arrebataste
A minha muito amada Imperatriz?
Tua divina vontade assim o quis?
Sabe que o meu coração dilaceraste.

Tu de certo contra mim te iraste,
Eu não sei o motivo, nem que fiz,
E co'aquele direi, que sempre diz:
Tu m'a deste, Senhor, tu m'a tiraste!

Ela me amava c'o maior amor,
E eu nela admirava a honestidade:
Sinto o meu coração quebrar de dor.

O mundo não verá mais n'outra idade
Modelo mais perfeito, nem melhor
D'honra e candura, amor e caridade.

[1826]


In: GUANABARA: Revista Mensal, Artística, Científica e Literária. Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.96?, 1852

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segunda-feira, agosto 14, 2006

SOMATIZANDO


Às vezes penso em mim como uma pessoa meio cabeça-dura. Outras, como uma pessoa com o coração mole... Não sei bem se alguma dessas duas definições é verdadeira ou que importância tem isso...

Hoje – hoje, ultimamente e não, hoje hoje... – me sinto rasgada...
Estranho isso, como sinto no corpo dores que deveriam ser só da alma!

Tava pensando nisso de manhã... Certas dores da minha alma se manifestam como um nó no estômago, daqueles que parecem querer causar um peristaltismo reverso... Outras parecem causar a perda de alguma parte do meu corpo, como se algum pedaço de mim fosse arrancado... E aquela sensação de frio intenso, que a tristeza e a solidão me trazem, que mais do que a pele, parece gelar o coração? E falo de coração físico, não o coração emocional.

Fico pensando que há bem pouco tempo atrás, eu pensei que não iria mais me sentir assim... Mas, de vez em quando, essas sensações voltam.

Hoje acredito muito menos nas pessoas, espero muito menos delas... Isso me dói, me coloca numa redoma em que poucos têm acesso... Não gosto disso, mas não tenho conseguido ser diferente.

Sei que muito do que somos é fruto do ambiente em que vivemos, das experiências que passamos, das emoções que de alguma forma nos marcam a alma... emoções tanto positivas como negativas.

Meu aniversário está chegando... talvez por isso eu esteja tão pensativa...
Vou fazer trinta e sete anos... e o que fiz da minha vida?
Fiz uma faculdade que descobri, quase no fim, que não gostava... mas terminei...
Casei, tive uma filha, mudei para outro país...
Voltei, descasei...
Fiz outra faculdade, batalhei pra cuidar da minha filha, pra começar tudo de novo...

Cansaço, solidão...

O que me consola é que eu creio num Deus que é fiel, que me ama, que conhece cada uma das minhas necessidades (as mais importantes, as mais bobas)!
Um Deus que sabe exatamente o que me tem feito chorar e o que me tem feito sorrir!
E que conhece o meu coração, conhece cada pensamento meu... e sabe que motivação tem cada uma das minhas atitudes.

Por isso, apesar da tristeza (que me invade de vez em quando...), da sensação de solidão (que falta faz alguém em quem se pode confiar de verdade...), de achar que o tempo está acabando (a areia não pára de escorrer na ampulheta...), eu sei que não estou só: Deus está ao meu lado e acompanhando tudo isso!

E como o salmista, eu creio que Ele nunca me abandonará! “Porque, quando meu pai e minha mãe me desampararem, o SENHOR me recolherá.” Salmos 27.10 – se até com pai e mãe abandonando (o que não é o meu caso) Deus nos recolhe...

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terça-feira, agosto 08, 2006

A SENHA




Tem gente me cobrando meus próprios textos... Mas tô numa daquelas fases em que não consigo colocar pra fora as palavras que percorrem meus pensamentos...

Tenho uma amiga-mana-linda, Gláucia Carvalho, ela mesma, a cantora e compositora... Fuçando o Orkut dela, achei essa poesia fresquinha, que ela fez hoje de manhã... E coloquei aqui, porque ela conseguiu traduzir um pouco mim nesses dias.

Gláucia, você pode não ter sabido na hora, mas escreveu a minha alma...



A Senha

Tô pendurando as chuteiras...
Tô entregando os pontos
Tô esvaziando a lixeira,
Tô escrevendo uns contos...

Tô me livrando das sobras,
Do pouco que ainda me resta,
Da parca, da pouca memória,
Dos sonhos, das danças, das festas...

Tô derramando o tão pouco,
Que ainda existe de fim,
Talvez eu consiga lembrar,
Que um dia eu lembrei de mim...

Que tive um nome, identidade,
Que tive endereço, uma cor, um sapato,
Que tive um regato, uma árvore, uma flor,
Tive livros, amigos, família, tive enfim, um grande amor...

Tive sóis e luas e ventos,
Tive chuvas e até uma resenha,
Quem sabe eu até não me esqueça,
Que um dia eu tive uma SENHA...


Gláucia Carvalho
08/08/2006
9:35 h



sexta-feira, julho 28, 2006

SILÊNCIO















Mais uma do Roberto Amorim...
http://www.smalltalk.com.br/blogs/blog/poesia

Silêncio

Palavras me fogem.
E as poucas que pego
Em sua corrida
Não rimam, não batem;
É só debandada
Fugaz, desconexa
De idéias e formas,
Poesia que corre
Que foge do peso
Desse pesadelo
Que é nossa vaidade.

Se faltam palavras,
Porém, 'inda existe
Em mim a poesia;
Poesia em buscá-las,
Poesia em perdê-las,
Poesia em tê-las,
Poesia em guardá-las;
Poesia em falá-las,
Poesia em calar-me
Poesia no alarme
Ao sentir sua falta;

Também é poesia
Faltarem palavras,
Faltar o poema
Que eu tento;
Que às vezes convém,
Sim, que nada se fale
P'ra não estragar
O momento.


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sábado, julho 08, 2006

MAIS FLORBELA ESPANCA


Árvores do Alentejo


Horas mortas... curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

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terça-feira, junho 20, 2006

ONDE ESTAVA DEUS?


Reproduzo aqui a pastoral que meu pastor escreveu no boletim do domingo 18/06/06. Eu tinha pensado em escrever sobre isso, mas ele já fez tão bem...


Bento 16 visitou Auschwitz, na Polônia, o mais famoso campo de extermínio utilizado pelos nazistas. Calcula-se que em suas câmaras de gás foram mortos de 1940 a 1945 entre 1,1 milhão e 1,5 milhão de pessoas. Bento 16 passou uma hora e meia nesse local e fez aí um discurso. Os jornais do mundo inteiro deram destaque à pergunta de Bento 16: "Deus, por que o Senhor ficou em silêncio?", foi a manchete do jornal italiano La Repubblica. O diário alemão Berliner Zeitung reproduziu: "Onde estava Deus?"

A pergunta-oração foi muito infeliz, já que é justamente a que fazem os inimigos da fé. Previsivelmente provocou reações. O rabino Henry Sobel, em texto publicado em O Estado de S.Paulo, respondeu: "Com todo o respeito, permito-me responder ao Sumo Pontífice: Deus estava onde sempre esteve, esperando que os homens assumissem o seu dever".

A questão do mal no mundo, sendo multicausal, é muito complicada para se resolver num artigo de boletim, se é que tem solução? Mas acho que, no caso do nazismo, o rabino tocou o cerne da questão. No mundo há males que resultam da nossa negligência. Quando os homens não "assumem o seu dever", não adianta depois perguntar a Deus onde ele estava. Se cavo e deixo aberto um buraco no quintal e cai lá uma criança, como posso perguntar a Deus onde ele estava? Por outro lado, o que o rabino quis dizer é: onde estavam os chamados homens de Deus quando o nazismo matava e torturava? De que lado estava a igreja? Onde estava Pio 12, por exemplo? Por que os púlpitos alemães não confrontavam o povo com o seu pecado? Será que alguém chegou a pregar que o preconceito é pecado? Que lições podemos retirar hoje para a nossa vivência cristã a partir da omissão dos irmãos alemães?

Lamento, papa, mas o silêncio não foi de Deus.

Pr. João Soares da Fonseca

segunda-feira, junho 12, 2006

AMOR DE OUTONO



Daqui a pouco chega o inverno.

E nesse finzinho de outono tropical, onde dias de sol se misturam com noites quase frias, lembro do outono que passei no outro hemisfério... A visão dos parques com suas árvores em tons amarelo e vermelho, o tapete de folhas cobrindo o chão... Parecia cena de filme... com a diferença que eu estava lá, ao vivo.

E ao falar do outono, me lembro da primavera, que vinha chegando devagarinho, aparecendo sob a forma de uma folhinha brotando num galho seco, uma flor colorida e feliz saindo do meio da neve que começava a derreter...

Penso que a nossa vida também é vivida em estações. Que muitas vezes não seguem a mesma ordem das estações do ano: primavera, verão, outono, inverno. Mas todos passamos por elas.

Quem nunca viveu uma primavera, onde a vida renasce, forte, intensa, depois de uma temporada de solidão e frio?

Quem nunca passou por um verão, onde tudo se torna mais colorido, mais vivo, mais intenso, com cheiro de sol e gosto de mar?

Quem nunca viveu um outono, onde os frutos amadurecem, as folhas mudam de cor, as sementes são preparadas para enfrentar o inverno?

E quem nunca passou por um inverno? Quem nunca sentiu aquele vento frio que parece nos cortar a alma, que rouba o calor que nos resta e nos congela o coração?


Muita gente sucumbe ao inverno... mas para os que sobrevivem, a certeza da primavera que chega é consolo mais do que suficiente para enfrentar o frio que nos deixa acuados, tiritando, nos escuros caminhos da solidão.

______________________


A poesia abaixo é de um amigo meu, Roberto Amorim, mineiro de BH, marido da Haline.
Sempre gosto do que ele escreve, e essa poesia tirei do blog dele:
http://www.smalltalk.com.br/blogs/blog/poesia

AMOR DE OUTONO

Quando as almas se enlaçam
O calor, se não o mesmo,
Se entranha;
Passam folhas, passam flores
Mas o tronco e as raízes
Permanecem,
Sobrevivem ao inverno
E florescem
Ao chegar
A primavera.
Amor que espera,
Amor que entende
Que aquece
Sem ser quente
Confortável, ternamente
Se afirma
Em valores permanentes
Na raiz do sentimento
E do tempo.
Amor de outono
Tão ameno,
Duradouro,
Tão dourado
E precioso
Vence o inverno,
A dor e a morte;
Amor eterno.

quarta-feira, junho 07, 2006

DIE LOTOSBLUME


Hoje eu fui assistir a apresentação do coral Calíope, no CCBB, numa programação especial pelos 150 anos de Schumann.

Foi muito lindo, por várias vezes lágrimas me vieram aos olhos... e olha que tudo era cantado em alemão (mas nós recebemos o libreto com as versões em português, claro).

Que coisa linda ouvir aquelas vozes... Eram apenas vozes... mas que vozes!
E o solo de piano? A pianista era uma só com seu instrumento!


Uma das peças apresentadas foi Die Lotosblume:

Ansiosa, a flor de lótus
No esplendor do sol
Sonha de cabeça baixa
Esperando a noite.

A lua, sua amante
A desperta com sua luz
E então para ela alegremente desvela
A sua inocente face de flor.

Desabrocha, arde e brilha,
E olha pra cima silenciosamente
Solta seu perfume e chora e treme
Por amor e por morrer de amor.



Impossível não pensar em Deus e em sua criatividade!
Ali eu vi a transformação de emoções em palavras, de palavras em poesia, de poesia em música, de vozes em magia! Esse momento vai ficar na minha memória, por muito tempo!


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terça-feira, maio 30, 2006

LÁGRIMAS OCULTAS


Tenho ouvido falar muito de Florbela Espanca...
Resolvi vasculhar a net e achei um site Jornal de Poesia http://www.secrel.com.br/Jpoesia/ , onde encontrei o soneto que transcrevo abaixo:

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

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Fiquei curiosa com a obra dela...
E esse nome... Florbela Espanca... quero descobrir de onde vem...
Acho que vou começar minhas pesquisas!

quinta-feira, maio 25, 2006

SEGUNDA MILHA


(escrito em 29 de novembro de 2004; de lá pra cá, muita coisa mudou, mas hoje reli esse texto e decidi colocá-lo aqui)

Quanta mágoa somos capazes de suportar?
Até onde somos capazes de ir?
Até onde vai a segunda milha?
Quem sacia a sede nas nossas lágrimas?


Queria não ter que responder a essas perguntas, queria não precisar fazer essas perguntas. Queria que as tristezas evaporassem tão logo surgissem.
Queria um ombro onde pudesse recostar e me deixar ficar, sem pressa, sem receios, sem cobrar, sem ser cobrada.
Queria que a cama não fosse tão vazia.
Queria que o dia não fosse tão longo e que a noite não fosse tão fria.
Queria um braço forte que me estendesse a mão e caminhasse ao meu lado, até que o amanhã brilhasse mais uma vez no horizonte.


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terça-feira, maio 16, 2006

TELA VAZIA

(escrito em 24 de abril de 2006)

Na minha frente a tela em branco pede por palavras, mas elas não acham o seu caminho entre o pensamento, o coração e o teclado.

A tela me desafia, ri com sarcasmo... “Vem, escreve... bota pra fora o que esconde dentro de você...”

E eu fico aqui, perdida entre os pensamentos e as teclas: as idéias voam, parecem vagalumes a piscar aqui e ali... agora eu vejo, agora não mais...


E o tempo passa, me cobrando uma atitude.

Lembranças... seriam elas que querem ser expostas? Não, acho que não. Queria escrever algo novo, bonito, gostoso...

Mas hoje, a tela vai continuar assim... branca, lisa... enquanto as palavras brincam de ciranda dentro de mim e me põem um sorriso bobo nos lábios...

quarta-feira, maio 10, 2006

DEPOIS DA CHUVA


Gosto de chuva. Sempre gostei.

Gosto do cheiro que vem pelo ar antes mesmo que ela chegue, anúncio que nem todos os olfatos conseguem distinguir. Gosto de ouvir o som dela se aproximando, e vê-la chegando, como uma cortina sendo aberta.


Gosto de tomar banhos de chuva... ver todo mundo correndo e andar devagarzinho, sentindo as gotas batendo na minha pele, a água escorrendo pelo meu corpo, a roupa grudando em mim... Liberdade!

Mas eu também gosto do depois da chuva...
Principalmente daquelas fortes chuvas de verão, quando o sol começa a aparecer e a luminosidade toda muda... algumas gotas fininhas ainda caem... no céu, ainda meio nublado, um arco-íris. O verde das plantas fica mais intenso, o ar fica mais limpo. Ah... e o cheiro da terra molhada... Paz!

Ontem choveu em mim... foi dia de banho de chuva... dia de viver um maravilhoso “depois da chuva”...

E dentro do meu ser, luz, arco-íris, verde, ar limpo, terra molhada... Felicidade!


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quarta-feira, maio 03, 2006

HOJE


(escrito em 02/fev/2006)


Hoje, mais uma vez, enfrento minha casa vazia.

Quero colo, calor, abraço, beijo, gente rindo à minha volta, meu coração rindo dentro do peito!!!

Quero não me esquecer de Gonzaguinha, e lembrar que a vida é bonita, é bonita e é bonita!

Quero cantar com Oswaldo e ver a rua cheia de sorrisos francos, de rostos serenos, de palavras soltas... Quero pedir desculpas pelo que eu não disse, desculpar o que você falou... Quero fazer barulho pela madrugada, seresta na calçada, dançar pela rua com os poetas, ver dez mil estrelas riscando o céu, ver meu coração no seu sorriso... Quero deixar triunfar a força da imaginação...

Quero dar um descanso pra minha alma – calma alma minha, calminha!

Quero conhecer as manhas e as manhãs, redescobrir o sabor das maçãs...

Quero viajar levada pelo vento, pela ventania... Quero mover as pás dos moinhos e abrandar o calor do sol... Quero mandar meus beijos pelo ar...

Quero lembrar daquela esquina em Minas e não me esquecer que eu também me chamo sonho e que sonhos não envelhecem...

Quero voar até a lua e brincar no meio das estrelas... Ver como é a primavera em Júpiter e Marte.

Quero entrar logo em setembro e ver a boa nova andar nos campos... Quero sonhar muito e semear minhas canções no vento... quero inventar uma nova canção que me traga o sol de primavera...

Quero soltar a minha risada mais gostosa, não perder esse meu jeito de achar que a vida pode e vai ser maravilhosa...Quero manter minha alegria escandalosa... quero passar dos meus limites... Quero não ter vergonha de aprender a ser feliz...

Não... a minha casa não está mais vazia...
Eu estou aqui!!!


sábado, abril 29, 2006

DEZ ANOS DE MEL

Tento recordar o que aconteceu em 1996 no mundo... Não dá... Só me lembro de um fato, acontecido em abril, aqui no Brasil: a morte dos integrantes da banda Mamonas Assassinas. Melhor procurar no Google... E vejo que outras coisas aconteceram: as meninas do vôlei de praia ganham o primeiro ouro olímpico (agosto)... morre Renato Russo, poeta da minha geração (outubro)... Mas a pesquisa se perde em meio a tantas coisas sem importância... desisto.

Mas 1996 vai ser sempre um ano inesquecível... no dia 20 de abril, nasceu a Melissa, a minha Mel!

Não dá pra descrever a sensação de carregar uma vida dentro da barriga, de parir (parir sim... quis parto normal), de amamentar a cria!

Não dá pra definir o que se sente quando aqueles olhinhos brilhantes olham pros nossos olhos!

Deus me deu a benção de ser mãe da Mel... Mel é bravinha, teimosa, quer ser dona do próprio nariz... Mas também é doce, carinhosa, inteligente...

Semana passada ela fez dez anos! Como passou rápido! Aquele bebê fofo e risonho é agora uma “pré-adolescente”... Meu bebê cresceu! Ela escolheu o tema da festa: Nárnia, baseada na crônica “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, de C.S. Lewis, uma fábula sobre o cristianismo, escrita há mais de 50 anos!

Pra finalizar, coloco aqui a letra de uma música que foi feita pra ela pelo Junior, nosso amigo poeta:

Canção para Mel

M enina linda, que me faz feliz
E ncanto que se mostra em seu carinho
L ivre quer se dona do nariz
I nsiste em traçar bem o seu caminho
S eu nome é puro e doce como o mel
S orriso que encanta a quem olhar
A o encontrar caneta e papel
C riando estórias pra nos alegrar
A migos que serão sempre bem-vindos
R ocamboles, Brigadeiros e quem mais vier
V erão surgir nos olhos da menina doces raios de mulher
A mor tão puro um beijo vem mostrar
L ançando-se ao pescoço num abraço
H á vida em seus olhos, seu falar
O nde encontro amor ganhando espaço...


A minha oração é que Deus me dê sabedoria pra cuidar da Melissa... e que ela cresça como Jesus cresceu: em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e as pessoas.

sexta-feira, abril 28, 2006

SUICÍDIO

(escrito em 28 de março de 2006)

Deu no jornal que a morte da atriz Ariclê Perez pode ter sido suicídio... No apartamento no 10º andar não havia sinais de arrombamento, ela tinha passado o dia sozinha, a janela é alta para que tenha sido um acidente, ela tinha deixado o número do telefone da família com o porteiro... Pode ser que sim, pode ser que não...


Qual o tamanho da dor que sente um suicida? Que vazio tão grande é esse que o empurra morte abaixo? No que se pensa depois do pulo? Quantas horas duram aquele segundos entre a janela e o chão?

Penso em tantas vezes que me senti profundamente triste, sem chão, sem alento, sem esperança... Tantas as vezes eu que quis sumir, evaporar... Mas, embora muitas vezes, como o salmista, me sentisse com o coração dolorido, cercada pelos cordéis de morte, na verdade mesmo queria é reencontrar a esperança, o sorriso, a mão amiga.

E tudo isso Deus providenciou... no tempo dEle, mas providenciou. A espera era difícil, dolorida, lavada em lágrimas... mas Ele nunca faltou.

Quantas vezes clamei por misericórdia... muitas vezes duvidando recebê-la... Mas Deus é fiel! E depois de sentir a mão de Deus me cercando, me cuidando , me protegendo, mesmo nos momentos de maiores dúvidas, meu coração fica mais leve ao ler que “O Senhor guarda aos símplices; fui abatido, mas Ele me livrou. Volta, minha alma, para o teu repouso, pois o Senhor te fez bem. Porque tu livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda.” (Salmo 116.6-8)

Hoje, lamento por aqueles que na hora do desespero não conseguem ver que Deus está ali, pronto para nos segurar com a sua mão forte, nos mostrar que acima da tempestade o céu continua azul, tranqüilo e com o sol a brilhar.

Lamento por cada pessoa que passou por mim e a quem eu não falei que Deus é amor e que esse amor faz a diferença. Tantas vezes senti essa vontade de chegar para alguém e dizer isso, mas em muitas delas, eu me calei... Como me dói cada oportunidade perdida!

Contudo, continuo contando com as misericórdias de Deus – que se renovam a cada manhã – e com a graça dEle – que me salvou apesar de mim mesma – para prosseguir, para levantar a cabeça e enxergar lá no horizonte o raiar de um novo dia...

O MEU CARANDIRU


(Reflexão sobre uma visita que fiz a um dos presídios aqui do Rio, no dia 01/abril/2006)

Uma das coisas que me chamou a atenção quando li “Carandiru”, livro do Dráuzio Varella, foi ele ter dito que quando entrava ali, entrava como médico, não como juiz: não importava o que aqueles homens tinha feito para estarem ali, importava cuidar da saúde deles, para que tivessem um pouco de dignidade. Admirei muito a postura dele, mas me intrigava como ele conseguia fazer isso.

Sábado passado eu fiz a minha primeira visita a um presídio, junto com mais três pessoas da minha igreja, a Adenice, a Márcia e o Gustavo. Quando cheguei lá, foi impossível não me recordar do livro (o filme eu não vi, por opção... achei que iria me chocar muito). Logo na entrada do complexo penitenciário, um sargento um tanto truculento quis fazer seu show... disse que não poderíamos entrar com as bolsas... que deveríamos deixar tudo no carro... uma chatice... Mas quando viu que Adenice, a capelã prisional, não deu muita bola pra ele e disse que isso era resolvido na portaria lá de dentro, ele resolveu parecer que estava fazendo um favor e nos deixou ir...

Andamos até o portão da unidade Muniz Sodré, um presídio masculino. Chegamos no horário da entrada das visitas... mulheres, crianças, sacolas de roupas e comida... uma fila organizada, todo mundo conversando baixo... os rostos não eram tristes, conformados talvez... Nós entramos por um portãozinho lateral, de ferro, pintado de azul, com uns buraquinhos por onde alguém perguntou quem era. Adenice respondeu e ele abriu uma janelinha minúscula, por onde ela passou a autorização que tínhamos para entrar. Ele então abriu o tal portão e entramos para a revista. Nada de mais... um portal detector de metais, uma olhada nas bolsas... não poderíamos entrar com documentos de tipo algum, chaves, celulares... Preferi deixar a bolsa inteira, e todo mundo do grupo colocou seus pertences dentro dela, exceto a Adenice, que deixou seus documentos mas levou a bolsa... e ainda falou para o guarda que estava com máquina fotográfica para tirar umas fotos do pessoal...

Enquanto estávamos ali, uma pequena fila das visitas que já tinham sido revistadas ia se formando junto a um outro portão. O silêncio delas, das crianças inclusive, era meio perturbador. Quando a fila alcançava um certo número de pessoas, este portão interno era aberto e elas podiam entrar. Nós não precisamos passar por esse processo; acabada a revista, o guarda nos levou ao portão e o abriu.

Andamos um pouco em um pátio cercado por muros altos até chegarmos em outro portão... Do lado de dentro, mais uma sala e mais um portão... finalmente o pátio onde participaríamos do culto!

Entrar nesse pátio foi estranho... a sala anterior era meio escura e ali, no pátio descoberto, com seus muros altos pintados de branco – uma pintura velha, já meio desgastada, parecia ser de cal – era muito claro, apesar de não ser um dia de sol aberto... O chão muito limpo, bem varrido... No meio, um pedestalzinho de cimento com uma torneira.

Logo de cara lembrei do livro... o pátio era quase um quadrado de uns 20 x 30 metros, mais ou menos. Encostados nas paredes, alguns casais namoravam, trocavam abraços, olhares, carinhos, beijos... como qualquer casal de namorados. Em um dos cantos, uma lona azul demarcava uma barraca improvisada onde uma família de seis a oito pessoas conversava, sentada em colchonetes; tinha até ventilador e televisão.

No fundo do pátio, o culto já tinha começado. Era dirigido por presos convertidos. Todos muito bem arrumados, penteados, calça comprida, camisa de mangas compridas, sorrisos nos olhares. Quando nos viram, o sorriso passou também para os lábios. Fomos até eles, que nos cumprimentaram - as mulheres com apertos de mão e Gustavo recebeu alguns abraços.

De repente, um garotinho com o cabelo descolorido para ficar loiro, todo molhado e vestindo uma sunga chega, olha para a Márcia, dá um sorriso enorme e sai correndo... Márcia é a responsável pelo trabalho com as crianças que vão visitar os pais. Em pouco minutos, ele volta com mais umas dez crianças, todas molhadas... Fico imaginando que deveriam estar em algum tipo de piscina e que para saírem de lá para ouvir uma história, devem estar muito sedentas... A Adenice pega o microfone e avisa que iria começar a historinha para as crianças; em pouco tempo, pais e mães começam a trazer seus filhos, saindo de um portão lateral que dá em um outro pátio, mais parecido com um corredor largo.

Quando a historinha começa, as crianças ficam todas sentadas, quietinhas, prestando atenção. Márcia faz um paralelo entre alguém que entra no mar sem saber nadar e a vida das pessoas sem Deus... usa uma bóia para simbolizar a salvação. Um menino canta uma música e começa a chorar... Quando termina essa parte do culto, Márcia apresenta o plano de salvação pra ele e ele aceita a Jesus. Emocionante!

Acabada essa parte, Gustavo toma a palavra e vai pregar para os adultos. Durante esse tempo, eu fico distribuindo uns folhetos e conversando com as pessoas que passam pelo pátio. O que me chama a atenção é o respeito que eles demonstram; mesmo quem não estava muito interessado, ouve, agradece, guarda o folheto. Algumas mulheres pedem oração por seus filhos e maridos; ao orarmos com elas, choram, nos abraçam... Começa a cair uma chuva fina... mas as pessoas continuam ali. No final, várias pedem bíblias e orações.

Na hora de ir embora, os presos que dirigiam o culto nos agradecem muito, apertam as nossas mãos e nos oferecem um sorriso discreto... de novo, só Gustavo é abraçado. Muito interessante esse respeito físico por nós, mulheres...

Na saída, de novo a fila das visitas, o silêncio das mulheres e crianças que esperam ser liberadas. O portão que se abre quando a fila atinge um determinado número de pessoas. O sorriso meio triste de quem já está com saudade daqueles que ficaram do lado de dentro. O guarda nos chama e passamos à frente das pessoas, ninguém reclama. Recebemos nossas coisas e saímos pelo portão azul. A chuva aumenta... andamos até a entrada principal e fico toda molhada de chuva.

Deixo pra trás um mundo completamente diferente... eu me sinto diferente... entendi o que o Dráuzio fala sobre não julgar aquelas pessoas... enquanto estava ali, não soube o que cada um fez para ser preso e nem quis saber depois... Penso nas crianças, que passam o sábado numa prisão, brincando com seus pais, sorrindo felizes, como quaisquer outras crianças. Penso nas mulheres, que só podem contar com seus maridos por um dia... quanta coisa pra se conversar em tão pouco tempo! Penso nas mães, que só podem cuidar de seus filhos nas tardes de sábado... quanta saudade! Penso em cada um dos presos com quem conversei ou que apenas vi... e vejo como somos iguais diante de Deus... os pecados deles não são maiores dos que os meus... o mesmo amor que Deus tem por mim, também tem por cada um deles... o mesmo sangue que Jesus derramou por mim, também derramou por eles!

Amor e sangue que nos dão a certeza de um dia nos encontrarmos com o Pai... e a esperança de que muitos que estão ali também estarão nesse encontro!




(este texto também está no site http://www.crerepensar.com.br , na seção Espaço Aberto)

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quinta-feira, abril 27, 2006

FALA, POETA!

Este texto foi escrito em 23 de abril, semana passada, para Junior, um grande amigo



Fala, Poeta!

Não deixes que a angústia
Seque a palavra na tua boca
Palavra que flui e ferve dentro de ti,
de teu coração, de tua mente

Fala, escreve...
Libera tuas palavras ao vento...
Deixa-as voar livremente
Entre flores e espinhos,
Entre raios de sol e gotas de chuva...

Fala, Poeta!
Mostra as feridas abertas,
O sangue pisado desse nosso povo!
Mostra também as flores,
A lua, o mar,
A gaivota planando sobre a tormenta!

Explode em palavras
Como vulcão em erupção...
Lança ao alto a tua voz!

Deixa escorrer teus pensamentos
Como lava quente,
Que fascina e assusta,
Que queima e arde,
Mas que faz pensar...

Fala, Poeta!
Derrama o bálsamo tirado
De onde só tu o sabes
Com dores que só tua alma sente

Não, Poeta!
Não te cales!

Não roubes o prazer de te ler...
Prazer egoísta e antropofágico
De ler tuas dores e teus próprios prazeres...

Fala, Poeta!
Precisamos te ouvir!


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FANTASIA


(28/dez/2005)


Na casa, as vozes altas se misturam com a som que vem da tv. Já é noite.

Entro no meu quarto, olho pela janela... Que saudade de ver o mar pela janela!
Fecho os olhos. E sou transportada para um outro lugar. Lugar azul, cheiro de flor, silêncio. Minha alma descansa... Paz!

Um barulho me traz de volta... O mesmo quarto, a mesma janela sem mar, vozes na casa.

Visto minha fantasia de forte e saio. Criança frágil, vejo como é simples vestir a fantasia. E sofro. Sofro porque queria ser vista como sou, sem a fantasia... frágil, querendo colo, precisando de carinho.

Respiro fundo, sigo em frente...

Hoje não... quem sabe outro dia me mostro como sou? Frágil, querendo colo, precisando de carinho... feliz, por não precisar da fantasia!
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