quarta-feira, novembro 29, 2006

IMAGEM

Essa poesia é da Ana do http://roccana.blogspot.com/ .
Mais uma que eu gostaria de ter escrito...




IMAGEM
.
em frente ao espelho
tiro a roupa
jogo tudo no chão
me olho
frente e verso
e me encaro
meu olhar é duro
seios
de quem amamentou
barriga
de quem pariu
pêlos
pernas afastadas
braços soltos
pés no chão
perfil
gosto do que vejo
em frente ao espelho
uma vida inteira
constato
que o espelho, cúmplice,
me sorriu
não pela imagem
que espelhava
mas por tudo
que intuiu
.

sexta-feira, novembro 17, 2006

TEMPO


Eu tive a felicidade de nascer num lar cristão... Cresci na igreja... A Bíblia sempre foi livro presente e lido na minha casa. Lembro bem da minha mãe contando como eram os cultos domésticos na casa dela, quando solteira: meus avós reunidos com os treze filhos e com os empregados do sitio do meu avô... e a nossa tentativa de reproduzir aqueles momentos na nossa casa.

Eu, quando criança, raramente perdia um debate de versículos, onde cada participante fala um versículo e quem não sabe, sai da roda, até que só reste uma pessoa. Acho que ter uma boa memória me facilitou muito nisso. Mas decorar não quer dizer aprender.


Mas, por estranho que possa parecer, o livro de Eclesiastes não me despertava interesse nessa época, por mais que eu gostasse de ler o Antigo testamento. Isso só foi acontecer numa aula de inglês, do CCAA. Eu devia estar entrando na adolescência, quando aquele texto em um inglês meio arcaico me chamou atenção. Eu não conseguia entender a explicação da professora para “a time to refrain from embracing” (v. 5). Acabei lendo na Bíblia quando cheguei em casa. Aí consegui pelo menos entender as palavras.

Hoje, passado tanto tempo, acho que finalmente estou aprendendo o significado daquelas palavras. Não especificamente do versículo 5, mas do 1º ao 8º, onde fala sobre o tempo, sobre as fases da vida.

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”


Talvez alguns me critiquem, mas me lembra uma música cantada pelo Lulu Santos: “a vida vem em ondas como o mar” (eu acho que essa parte da letra é de uma poesia do Vinícius de Moraes, não tenho certeza). Aprender que a vida tem ciclos parece simples, mas acho que a maioria das pessoas não aprende assim tão rápido. Com certeza, eu sou uma das que demoraram muito para aprender e às vezes me pergunto se aprendi de verdade ou finjo que aprendi e fico me enganando nem sei porque.


O que sei é que alguns tempos são muito difíceis:
o de morrer (quantas vezes já fiz isso?),
o de matar (tanta coisa precisei matar dentro de mim...),
o de arrancar o que plantamos (quantas coisas que pensei que floresceriam e seriam colhidas tiveram que ser arrancadas?),
o de derrubar (só quem viu a realidade destruir um sonho sabe essa dor),
o de não abraçar (como são frios os braços vazios!)
o de perder, o de rasgar, o de guerra
o do choro, o do pranto (quantas estrelas você consegue ver através das lágrimas?)
o de estar calado (como é difícil calar! como é difícil saber o tempo de calar!)

E todos esses tempos difíceis estão aí para nos mostrar que os tempos bons, aqueles com que a gente vive sonhando, também existem. Muito mais do que isso, eles existem, mas não são necessariamente eternos. O que hoje está aqui, amanhã pode não mais estar. Porém, isso não deve ser visto como a faca do carrasco se aproximando do nosso pescoço. Como seria mais simples agradecermos a oportunidade de sermos felizes hoje, cuidarmos do que temos hoje... Não numa busca louca e irresponsável pelo que nos dá prazer hoje, mas conseguindo viver um dia de cada vez, com suas alegrias e tristezas. E tentar descobrir que cada dor pode trazer um motivo de crescimento assim como cada sorriso nos alimenta a alma.


Uma coisa é certa, apesar de toda a minha ansiedade (que também estou aprendendo a controlar): eu estou muito mais tranqüila para ouvir o tempo. Deixar que ele aja. Saber que a grande maioria das coisas não está sob o meu controle pode ser angustiante, mas, por outro lado, me tira um grande peso. Se eu não posso controlar algo, não adianta ficar me torturando por isso. Deixa o tempo tomar conta.


E aí eu lembro de alguns de ditados populares, que falam sobre o tempo. “O tempo é o melhor remédio.” “Não há mal que o tempo não cure.” “O tempo cicatriza as feridas do corpo e da alma.” E penso numa coisa... acho que muita gente chama Deus de tempo...


Marcia Carvalho

PS.: Meu amigo Roberto Amorim fez um comentário lindo aqui. Leiam, vale a pena!

quinta-feira, novembro 09, 2006

OS VENTOS DO DESTINO

Estou fazendo o curso "Academia da Alma" com o pastor Israel Belo, na Igreja Batista Itacuruçá, aqui pertinho de casa.
Ontem, folheando a apostila, encontrei essa jóia, escrita por uma mulher que viveu há tanto tempo... Essa foto abaixo é dela...




OS VENTOS DO DESTINO
Ella Wheeler Wilcox (1850-1919),
tradução de Israel Belo de Azevedo

Um barco sai para o leste e outro para o oeste
Levados pelos mesmos ventos que sopram:
É a posição das velas,
E não os temporais,
Que lhes dita o curso a seguir.

Como os ventos do mar são os ventos do destino
Quando navegamos ao longo da vida:
É a posição da alma que determina a meta,
E não a calmaria ou a borrasca.

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