sábado, dezembro 09, 2006

OSSOS SECOS, GALHOS E FLORES



Em Ezequiel 37, conta-se a visão de um vale de ossos secos: Ezequiel é levado pela mão de Deus e colocado no meio de um vale cheio de ossos secos. E Deus mostra a ele que aquilo que parece acabado, ainda tem solução... um estranho barulho começa e os ossos começam a se aproximar uns dos outros, e fáscias, tendões, vasos sanguíneos e músculos começam a surgir e cobrir aqueles ossos... órgãos se formam, pele recobre tudo... unhas e cabelos surgem... Vida onde antes não havia nem esperança!

Penso em quantas vezes me senti assim, no meio de muitos e muitos ossos secos. Sensação de deserto, exílio... Estou vivendo mais um período de ossos secos!

Não quero escrever da teologia do que aconteceu com Ezequiel; nem tenho conhecimento pra tal. Quero fazer um desabafo, lançar minhas lágrimas no vento, andar na beira do mar e sentir a água lavar minha tristeza...

Com quantos ossos secos se faz um deserto?
2006 foi um ano muito difícil pra mim, talvez um dos mais difíceis que já vivi. Repenso o que fiz, o que senti, o que vivi...

Arrependimentos? Alguns, com certeza...

Dores? Muitas...
Lágrimas? Incontáveis... mas quando elas se misturam com a chuva, quase ninguém vê...
Amigos de verdade? Poucos, pouquíssimos… Mas é melhor assim: nesse caso, qualidade é tudo!

Lições? Muitas, mas ainda falta absorver boa parte delas. Mas algumas ficaram gravadas, e foram gravadas a ferro e fogo, queimando, machucando... e devem ficar pra sempre.

Ossos, ossos, ossos… Meu vale anda cheio deles. E muitos vão continuar assim, só ossos secos…

Tem uma música muito antiga, nem sei quem canta, mas que eu gosto muito… o nome é Galhos Secos: “Nos galhos secos de uma árvore qualquer, onde ninguém jamais pudesse imaginar, o Criador vê uma flor a brotar. Olhai: os lírios cresceram no campo, pois o Senhor nosso Deus os tem alimentado para nossa
alegria."

E, assim como nessa música, eu vejo que mesmo em meio a tantos ossos secos, Deus tem feito brotar flores que me alegram o coração e me fazem suportar o silêncio dos ossos imóveis. Não vou citar os nomes, mas cada flor que apareceu no meu vale em 2006 um motivo pra sorrir.

Uma dessas flores me lembrou que só podemos ver bem os montes quando estamos no vale, como aconteceu tantas vezes com o salmista… e que por isso mesmo o vale é importante…

Outra flor me lembrou que quando o povo de Israel foi para mais um exílio (Jeremias 29.4-6), a ordem de Deus foi para que aproveitassem esse período para viver, plantar, construir… O exílio muitas vezes é período de crescimento…

Em uma outra flor eu vejo a alegria de saber que o navio está ancorado logo ali… só falta embarcar… e que a melhor hora do embarque é aquela marcada por Deus...

E tem aquela outra flor, que com um abraço gostoso (mesmo que muitas vezes só enchendo a tela do msn) sempre me faz sorrir...

E algumas outras só com um sorriso ou um olhar dizem tudo...

O silêncio ainda persiste... flores brotando costumam ser bem silenciosas... mas sei que ainda ouvirei o ruído dos ossos...
Onde há Deus (e existe lugar onde não há?), há esperança!

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