terça-feira, junho 20, 2006

ONDE ESTAVA DEUS?


Reproduzo aqui a pastoral que meu pastor escreveu no boletim do domingo 18/06/06. Eu tinha pensado em escrever sobre isso, mas ele já fez tão bem...


Bento 16 visitou Auschwitz, na Polônia, o mais famoso campo de extermínio utilizado pelos nazistas. Calcula-se que em suas câmaras de gás foram mortos de 1940 a 1945 entre 1,1 milhão e 1,5 milhão de pessoas. Bento 16 passou uma hora e meia nesse local e fez aí um discurso. Os jornais do mundo inteiro deram destaque à pergunta de Bento 16: "Deus, por que o Senhor ficou em silêncio?", foi a manchete do jornal italiano La Repubblica. O diário alemão Berliner Zeitung reproduziu: "Onde estava Deus?"

A pergunta-oração foi muito infeliz, já que é justamente a que fazem os inimigos da fé. Previsivelmente provocou reações. O rabino Henry Sobel, em texto publicado em O Estado de S.Paulo, respondeu: "Com todo o respeito, permito-me responder ao Sumo Pontífice: Deus estava onde sempre esteve, esperando que os homens assumissem o seu dever".

A questão do mal no mundo, sendo multicausal, é muito complicada para se resolver num artigo de boletim, se é que tem solução? Mas acho que, no caso do nazismo, o rabino tocou o cerne da questão. No mundo há males que resultam da nossa negligência. Quando os homens não "assumem o seu dever", não adianta depois perguntar a Deus onde ele estava. Se cavo e deixo aberto um buraco no quintal e cai lá uma criança, como posso perguntar a Deus onde ele estava? Por outro lado, o que o rabino quis dizer é: onde estavam os chamados homens de Deus quando o nazismo matava e torturava? De que lado estava a igreja? Onde estava Pio 12, por exemplo? Por que os púlpitos alemães não confrontavam o povo com o seu pecado? Será que alguém chegou a pregar que o preconceito é pecado? Que lições podemos retirar hoje para a nossa vivência cristã a partir da omissão dos irmãos alemães?

Lamento, papa, mas o silêncio não foi de Deus.

Pr. João Soares da Fonseca

segunda-feira, junho 12, 2006

AMOR DE OUTONO



Daqui a pouco chega o inverno.

E nesse finzinho de outono tropical, onde dias de sol se misturam com noites quase frias, lembro do outono que passei no outro hemisfério... A visão dos parques com suas árvores em tons amarelo e vermelho, o tapete de folhas cobrindo o chão... Parecia cena de filme... com a diferença que eu estava lá, ao vivo.

E ao falar do outono, me lembro da primavera, que vinha chegando devagarinho, aparecendo sob a forma de uma folhinha brotando num galho seco, uma flor colorida e feliz saindo do meio da neve que começava a derreter...

Penso que a nossa vida também é vivida em estações. Que muitas vezes não seguem a mesma ordem das estações do ano: primavera, verão, outono, inverno. Mas todos passamos por elas.

Quem nunca viveu uma primavera, onde a vida renasce, forte, intensa, depois de uma temporada de solidão e frio?

Quem nunca passou por um verão, onde tudo se torna mais colorido, mais vivo, mais intenso, com cheiro de sol e gosto de mar?

Quem nunca viveu um outono, onde os frutos amadurecem, as folhas mudam de cor, as sementes são preparadas para enfrentar o inverno?

E quem nunca passou por um inverno? Quem nunca sentiu aquele vento frio que parece nos cortar a alma, que rouba o calor que nos resta e nos congela o coração?


Muita gente sucumbe ao inverno... mas para os que sobrevivem, a certeza da primavera que chega é consolo mais do que suficiente para enfrentar o frio que nos deixa acuados, tiritando, nos escuros caminhos da solidão.

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A poesia abaixo é de um amigo meu, Roberto Amorim, mineiro de BH, marido da Haline.
Sempre gosto do que ele escreve, e essa poesia tirei do blog dele:
http://www.smalltalk.com.br/blogs/blog/poesia

AMOR DE OUTONO

Quando as almas se enlaçam
O calor, se não o mesmo,
Se entranha;
Passam folhas, passam flores
Mas o tronco e as raízes
Permanecem,
Sobrevivem ao inverno
E florescem
Ao chegar
A primavera.
Amor que espera,
Amor que entende
Que aquece
Sem ser quente
Confortável, ternamente
Se afirma
Em valores permanentes
Na raiz do sentimento
E do tempo.
Amor de outono
Tão ameno,
Duradouro,
Tão dourado
E precioso
Vence o inverno,
A dor e a morte;
Amor eterno.

quarta-feira, junho 07, 2006

DIE LOTOSBLUME


Hoje eu fui assistir a apresentação do coral Calíope, no CCBB, numa programação especial pelos 150 anos de Schumann.

Foi muito lindo, por várias vezes lágrimas me vieram aos olhos... e olha que tudo era cantado em alemão (mas nós recebemos o libreto com as versões em português, claro).

Que coisa linda ouvir aquelas vozes... Eram apenas vozes... mas que vozes!
E o solo de piano? A pianista era uma só com seu instrumento!


Uma das peças apresentadas foi Die Lotosblume:

Ansiosa, a flor de lótus
No esplendor do sol
Sonha de cabeça baixa
Esperando a noite.

A lua, sua amante
A desperta com sua luz
E então para ela alegremente desvela
A sua inocente face de flor.

Desabrocha, arde e brilha,
E olha pra cima silenciosamente
Solta seu perfume e chora e treme
Por amor e por morrer de amor.



Impossível não pensar em Deus e em sua criatividade!
Ali eu vi a transformação de emoções em palavras, de palavras em poesia, de poesia em música, de vozes em magia! Esse momento vai ficar na minha memória, por muito tempo!


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