quinta-feira, setembro 14, 2006

CARTA ABERTA AOS MEUS AMIGOS

Meu aniversário tá chegando... Vai batendo uma melancolia, uma tristeza por ver que estou bem longe do que eu sonhei pra essa fase da minha vida...

Achei esse texto do Gondim; aliás, me foi mostrado por um amigo. Quando li, algumas lágrimas queriam sair, mas consegui me conter e acho que nem esse amigo, que estava do meu lado, conseguiu perceber.

Pra quem reclama a falta de textos meus, eu peço desculpas e paciência. Tenho muita coisa pra colocar pra fora, mas preciso primeiro deixar as ondas se acalmarem, ou, pelo menos, conseguir fixar o olhar no horizonte, apesar do barco balançar tanto.

Bem, espero que gostem...



Carta aberta aos meus amigos.

Ricardo Gondim

Ando carente e vulnerável. Preciso reafirmar-lhes, meus amigos, como necessito de vocês e como não agüentaria mais perder nenhum colega.

Por favor, cuidem-se. Entendo que a maioria de vocês não fuma, não bebe exageradamente e sabe dos malefícios do colesterol. Não, não falo desse cuidado periférico. Peço que cuidem da alma. Procurem aprender a gostar de música clássica (as vacas leiteiras já aprenderam). Leiam romances, novelas, ficção científica, poesia. Lembro-lhes que a estrada para os manicômios está pavimentada de teses argumentativas e debates intermináveis sobre as minúcias filosóficas e questiúnculas teológicas. Há pouco, visitei um amigo internado numa clínica. Imaginem minha tristeza quando o vi repetindo para as paredes, que descobrira o significado do número 666 do Apocalipse.

Por favor, fujam do pecado. Não, não me refiro às tentações menores que já catalogamos em nossos manuais religiosos de santidade. Lembrem-se que a maior de todas as desgraças está ligada ao poder. Na oração do Pai-Nosso, Jesus nos ensinou a pedir que Deus não nos deixasse cair em armadilhas, mas nos livrasse do mal. Dizem os melhores exegetas que a cláusula final que os protestantes citam - “Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre” – não fazia parte da prece original. Eles afirmam que algum escriba, anos depois, resolveu dar sua interpretação para o significado daquele “mal” que deveríamos pedir para ser livres. Quando afirmamos que “teu é o Reino, o poder e a glória”, estaríamos reconhecendo que o mal mais horroroso é a cobiça do poder. Aceitem a interpretação desse monge anônimo e guardem em mente que o anel de Tolkien é perigosíssimo. Nunca esqueçam que nossa mãe também deixou de mergulhar nosso calcanhar nas águas sagradas e até o Super-homem era vulnerável.

Por favor, não queiram ser candidatos na política; não tolero imaginar-lhes em camburões da Polícia Federal. Evitem andar de motocicleta. Não parem em sinal de trânsito tarde da noite. Cuidado ao nadarem em praias infestadas de tubarão. Aos amigos homens, sugiro: abandonem o paletó e a gravata. Às mulheres, advirto: não apliquem botox nos lábios. Companheiros, nunca, em hipótese nenhuma, tinjam seus cabelos.

Por favor, lembrem-se que as duas únicas dimensões de vida que dispomos são o passado e o futuro. O futuro se transforma tão velozmente em passado que nunca desfrutamos do presente. Viver se resume na esperança do porvir ou na lembrança do pretérito. Toda esperança mal antecipada pode transformar-se em ansiedade; e toda saudade, acabar em melancolia. Cada qual terá sempre que decidir como vai encarar seu futuro e como tratará sua memória. Não atrofiem a alma com ansiedades nem com melancolias.

Estou envelhecendo. Pressinto que necessito cuidar de meus amigos, mantendo-os em forma; eles me ajudarão nessa última etapa de minha jornada.

Portanto, cuidem-se, eu preciso muito de vocês.

Com carinho,

Ricardo
Soli Deo Gloria.

quinta-feira, setembro 07, 2006

UM SONETO DE D. PEDRO I

Olhem só o que descobri: um soneto que D. Pedro escreveu quando ficou viúvo...


À Sempre para Mim Sentida Morte
da Minha Adorada Esposa a ...



Deus Eterno por que me arrebataste
A minha muito amada Imperatriz?
Tua divina vontade assim o quis?
Sabe que o meu coração dilaceraste.

Tu de certo contra mim te iraste,
Eu não sei o motivo, nem que fiz,
E co'aquele direi, que sempre diz:
Tu m'a deste, Senhor, tu m'a tiraste!

Ela me amava c'o maior amor,
E eu nela admirava a honestidade:
Sinto o meu coração quebrar de dor.

O mundo não verá mais n'outra idade
Modelo mais perfeito, nem melhor
D'honra e candura, amor e caridade.

[1826]


In: GUANABARA: Revista Mensal, Artística, Científica e Literária. Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.96?, 1852

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