Noite passada, folheando o "Oráculos de Maio", cheguei aqui:
.
Aqui vou colocar um pouquinho do que tenho visto, lido, sentido, pensado...
Coisas que de alguma forma me fizeram refletir...
QUANDO DEUS APARECE
Tenho amigas de fé. Muitas. Uma delas, que é como uma irmã, me escreveu um e-mail poético, dia desses. Ela comentava, em detalhes, sobre o recital a que ela assistiu do pianista Nelson Freire, recentemente. Tomada pela comoção durante o espetáculo, ela finalizou o email assim: “Nessas horas Deus aparece.”
Fiquei com essa frase retumbando na minha cabeça. De fato, Deus não está em promoção, se exibindo por aí. Ele escolhe, dentro do mais rigoroso critério, os momentos de aparecer pra gente. Não sendo visível aos olhos, ele dá preferência à sensibilidade como via de acesso a nós. Eu não sou uma católica praticante e ritualística – não vou à missa. Mas valorizo essas aparições como se fosse a chegada de uma visita ilustre, que me dá sossego à alma.
Quando Deus aparece pra você?
Pra mim, ele aparece sempre através da música, e nem precisa ser um Nelson Freire. Pode ser uma música popular, pode ser algo que toque no rádio, mas que me chega no momento exato em que preciso estar reconciliada comigo mesma. De forma inesperada, a música me transcende.
Deus me aparece nos livros, em parágrafos em que não acredito que possam ter sido escritos por um ser mundano: foram escritos por um ser mais que humano.
Deus me aparece – muito! – quando estou em frente ao mar. Tivemos um papo longo, cerca de um mês atrás, quando havia somente as ondas entre mim e ele. A gente se entende em meio ao azul, que seria a cor de Deus, se ele tivesse uma.
Deus me aparece – e não considere isso uma heresia – na hora do sexo, desde que feito com quem se ama. É completamente diferente do sexo casual, do sexo como válvula de escape. Diferente, preste atenção. Não quero dizer que qualquer sexo não seja bom.
Neste exato instante em que escrevo, estou escutando “My Sweet Lord” cantada não pelo George Harrison (que Deus o tenha), mas por Billy Preston (que Deus o tenha, também) e posso assegurar: a letra é um animado bate-papo com Ele, ritmado pelo rock’n’roll. Aleluia.
Deus aparece quando choro. Quando a fragilidade é tanta que parece que não vou conseguir me reerguer. Quando uma amiga liga de um país distante e demonstra estar mais perto do que o vizinho do andar de cima. Deus aparece no sorriso do meu sobrinho e no abraço espontâneo das minhas filhas. E nas preocupações da minha mãe, que mãe é sempre um atestado da presença desse cara.
E quando eu o chamo de cara e ele não se aborrece, aí tenho certeza de que ele está mesmo comigo.
Martha Medeiros
Revista O Globo, 24/agosto/2008
Lições? Muitas, mas ainda falta absorver boa parte delas. Mas algumas ficaram gravadas, e foram gravadas a ferro e fogo, queimando, machucando... e devem ficar pra sempre.
Ossos, ossos, ossos… Meu vale anda cheio deles. E muitos vão continuar assim, só ossos secos…
Tem uma música muito antiga, nem sei quem canta, mas que eu gosto muito… o nome é Galhos Secos: “Nos galhos secos de uma árvore qualquer, onde ninguém jamais pudesse imaginar, o Criador vê uma flor a brotar. Olhai: os lírios cresceram no campo, pois o Senhor nosso Deus os tem alimentado para nossa
alegria."
E, assim como nessa música, eu vejo que mesmo em meio a tantos ossos secos, Deus tem feito brotar flores que me alegram o coração e me fazem suportar o silêncio dos ossos imóveis. Não vou citar os nomes, mas cada flor que apareceu no meu vale em 2006 um motivo pra sorrir.
Uma dessas flores me lembrou que só podemos ver bem os montes quando estamos no vale, como aconteceu tantas vezes com o salmista… e que por isso mesmo o vale é importante…
Outra flor me lembrou que quando o povo de Israel foi para mais um exílio (Jeremias 29.4-6), a ordem de Deus foi para que aproveitassem esse período para viver, plantar, construir… O exílio muitas vezes é período de crescimento…
Em uma outra flor eu vejo a alegria de saber que o navio está ancorado logo ali… só falta embarcar… e que a melhor hora do embarque é aquela marcada por Deus...
E tem aquela outra flor, que com um abraço gostoso (mesmo que muitas vezes só enchendo a tela do msn) sempre me faz sorrir...
E algumas outras só com um sorriso ou um olhar dizem tudo...
O silêncio ainda persiste... flores brotando costumam ser bem silenciosas... mas sei que ainda ouvirei o ruído dos ossos...
Onde há Deus (e existe lugar onde não há?), há esperança!
.