"É preciso ter esperança. Mas tem que ser esperança do verbo esperançar. Porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. Esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperança é a capacidade de olhar e reagir àquilo que prece não ter saída. Por isso, é muito diferente de esperar; temos mesmo é de esperançar."
Sempre que passamos por uma dia marcante, como aniversário ou a noite de passagem de ano, mesmo sem querer temos a tendência de achar que no dia seguinte tudo vai ser diferente. E na imensa maioria das vezes, não é. Mudar de ano não significa que tudo vai estar novo no dia seguinte. Mas devolve as nossas esperanças de dias melhores.
2020 foi um ano muito diferente de todos os outros anos para nós. Pareceu que estávamos num daqueles filmes pós apocalípiticos, tentando sobreviver. Um ser tão pequeno que nem consegue ser visto em um microscópio comum virou o mundo de cabeça para baixo: o Sars-Cov-2, um vírus, chegou e nos tirou até o direito de abraçar aqueles que amamos mas que não moram conosco.
Tivemos que suportar a saudade dos amigos, enfrentar o medo quando saíamos na rua, nos vimos no meio de máscaras e álcool em gel, tentando nos proteger e proteger os nossos amados. Perdemos tanta gente querida para esse vírus. Talvez tenha sido um dos anos mais tristes que vivemos.
Por outro lado, coisas boas também aconteceram. Reconhecemos que precisamos dos nossos amigos e inventamos novos jeitos de estar juntos sem estar perto. Redescobrimos como a Arte é importante na nossa vida: ouvimos mais músicas e vimos mais filmes, já que não nos restaram muitas opções de lazer. Percebemos mais do que nunca como os profissionais de saúde e da educação são fundamentais na nossa vida.
Muita gente usou esse tempo para aprender algo novo. Muita gente não conseguiu, e não tem problema algum nisso: estamos no meio de uma pandemia, não de um retiro espiritual.
Amanhã, quando 2021 começar, acho que todos gostaríamos que acordássemos com céu azul, brisa no rosto e o fim desse pesadelo. Mas não vai ser assim. O céu azul e a brisa talvez apareçam. Mas o pesadelo vai continuar.
Só que assim como o mocinho daqueles filmes que falei lá em cima, apesar do cansaço e das dores, estaremos ainda buscando o sonho, porque sem esperança a gente não vive.
Que todos nós tenhamos um 2021 cheio de esperança e de realizações!
Marcia Carvalho,
Teresópolis, 31 dez 2020
P.S.: o texto que começa esta reflexão é do livro Pedagogia da Esperança, de Paulo Freire
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