terça-feira, dezembro 29, 2020

O lago


 Lago das Fadas, Floresta da Tijuca, RJ, 2008
foto: arquivo pessoal


Quando conseguiu avistar o lago entre as árvores e os arbustos, não tinha muita certeza de como chegara até ali.

No momento que inspirou mais fundo, sentiu a umidade enchendo o seu peito. E junto com ela, um arrepio percorreu o seu corpo.

Lembrou-se do arrepio que sentiu anos atrás, quando viu o mesmo lago pela primeira vez e tocou sua água fria. Tinha sido apenas um toque rápido: a água fria encostou em seus pés e, num susto, se retraiu.

A emoção daquele arrepio permaneceu em uma das suas gavetas de lembranças, aquela que não era muito mexida, porque era repleta de impossibilidades.

Mas a umidade do lago abriu a gaveta: continuava cheia de cheiros, sensações, lembranças... E de impossibilidades: umas antigas, outras nem tanto. Algumas, tais como pequenas mariposas, voaram gaveta afora e se esvaneceram no ar, deixando um quase invisível rastro de poeira naquele minúsculo raio de sol que entrou por uma fresta da janela mal fechada.

E olhando o lago, sentou-se na sua margem, abraçou as pernas e ficou observando as libélulas que davam seus pequenos mergulhos na água, desejando, por um instante ter a mesma coragem.

 

Marcia Carvalho,  

Teresópolis, dezembro 2020 

 


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