foto: arquivo pessoal
No momento que inspirou mais fundo, sentiu a umidade enchendo o seu peito. E junto com ela, um arrepio percorreu o seu corpo.
Lembrou-se do arrepio que sentiu anos atrás, quando viu o mesmo lago pela primeira vez e tocou sua água fria. Tinha sido apenas um toque rápido: a água fria encostou em seus pés e, num susto, se retraiu.
A emoção daquele arrepio permaneceu em uma das suas gavetas de lembranças, aquela que não era muito mexida, porque era repleta de impossibilidades.
Mas a umidade do lago abriu a gaveta: continuava cheia de cheiros, sensações, lembranças... E de impossibilidades: umas antigas, outras nem tanto. Algumas, tais como pequenas mariposas, voaram gaveta afora e se esvaneceram no ar, deixando um quase invisível rastro de poeira naquele minúsculo raio de sol que entrou por uma fresta da janela mal fechada.
E olhando o lago, sentou-se na sua margem, abraçou as pernas e ficou observando as libélulas que davam seus pequenos mergulhos na água, desejando, por um instante ter a mesma coragem.
Marcia Carvalho,
Teresópolis, dezembro 2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário