Eu vim de uma família grande, bem grande. Minha mãe tem doze irmãos e meu pai, nove. Esses meus dezenove tios tem uma média de quatro filhos, o que me deixa com cerca de 76 primos de primeiro grau. Todos os meus primos são casados e quase todos tem filhos, o que faz com que eu tenha mais de cem primos de segundo grau. Ah! Eu tenho uma filha, dois irmãos, três sobrinhas...
E na minha família, marido de tia também é tio, mulher do primo também é prima e por aí vai. Então, imagina como eram as festas de fim de ano!
Bem, o que mais me lembro da época de Natal dos meus tempos de criança era a alegria por encontrar tanta gente, pois muitos moravam longe e ficávamos sem nos ver o ano todo. É lógico que como toda criança, estávamos ansiosos por nossos presentes, mas isso não era o principal.
Meu fim de ano era uma correria. A família da minha mãe, minha avó e a minha bisavó, todos batistas, moravam na mesma cidade que eu, Teresópolis. Meus avós paternos, muito católicos, moravam numa outra cidade, muito pequena, ainda no estado do Rio, mas já pertinho de Minas. A rotina era passar a noite do dia 24 na igreja, quando tinha culto, seguir para a casa dos meus avós paternos no dia 25, onde um grande almoço reunia boa parte da família do meu pai, e na volta dar uma passada na casa da minha avó materna. No dia 31 de dezembro passávamos a noite na igreja e o dia na casa da minha avó materna, onde acontecia o amigo oculto e um almoço.
Sinto saudade dessa época, em que o nascimento de Jesus era comemorado e o maior presente era poder estar com quem se ama, se sentir amado, se sentir parte da família, pertencer.
Hoje, infelizmente, dificilmente vejo esse “clima de Natal” nas pessoas. Todo mundo parece muito mais preocupado com os preparativos da festa e a compra de presentes do que com o sentido do Natal. Vitrines enfeitadíssimas convidam ao consumismo, num mundo em que o ter passou a valer mais do que o ser. Pessoas saem do supermercado com todos os ingredientes da ceia de Natal, mas nem percebem o menino sujo, esfarrapado e faminto sentado na calçada. Enquanto carregam sacolas e mais sacolas de presentes, não têm tempo de perceber a tristeza e a solidão no olhar de muitos com quem esbarram nos corredores lotados dos shoppings.
Alguns dizem que a culpa é da pós-modernidade, essa fatia do tempo em que estamos vivendo e que ensinou as pessoas a serem cada vez mais preocupadas com o eu e se esquecerem do nós. Pode ser que sim, pode ser que não. O que hoje é muito claro para mim é que vivemos a cultura do descartável: amo-muito-tudo-isso enquanto me der prazer, enquanto me for útil, enquanto eu puder tirar alguma vantagem; quando isso acabar, simplesmente descarto, sem ter o trabalho de me envolver, de me comprometer. Aliás, acho que essas são as palavras-chave: envolvimento e comprometimento. A maioria das pessoas quer distância delas e do que elas significam.
Mas o que me incomoda de verdade é ver que isso acontece entre os que se declaram cristãos. Penso na parábola do bom samaritano e me pergunto se no cristianismo pós-moderno tem lugar para o próximo ou se o eu tomou todo o espaço. E se não houver, ainda pode ser chamado de cristianismo?
Talvez seja menos complicado deixar essas perguntas de lado. Porque se formos pensar, talvez nos deparemos com a nossa própria falta de envolvimento e comprometimento. Então, comemoremos! Afinal, já é Natal na Leader Magazine!
FELIZ NATAL!
Que o sua vida seja marcada pela simplicidade do menino que teve a manjedoura como berço.
ps: Para quem não conhece, a Leader é a loja que tem o jingle “natalino” que mais gruda na minha cabeça, todo ano, nessa época: "Já é Natal na Leader Magazine..."
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Um comentário:
Lindo Márcia!
Obrigada por me poresentear com essas lindas palavras e lembranças de um Natal que, realmente, parece que não é mais o mesmo.
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