Cena de Cinema; cena de filme de horror.
Não, não escrevi errado. Não é filme de terror. É filme de horror, mesmo.
Hoje, logo cedo, como faço todo dia, liguei o computador e vim dar uma checada nas noticias do jornal. O que eu vi me deixou sem saber o que pensar, como se alguma coisa em mim tivesse sido desligada.
João, um menino de seis anos, foi arrastado por bandidos que roubaram o carro onde ele estava por seis quilômetros. Os outros ocupantes, a mãe e a irmã de João, conseguiram sair do carro, mas João, não.
João ficou pendurado pelo cinto de segurança e os bandidos arrancaram com o carro. Percorreram quatro bairros, rodaram por dez minutos.
Eles sabiam que o menino estava lá. Andavam em zig-zag; será que queriam se ver logo livres da carga?
Quando chegaram a uma rua sem saída, abandonaram o carro e o pequeno corpo sem vida. E fugiram por uma estreita escadaria.
Eu fiquei sem palavras. Sem pensamentos.
Agora, algumas coisas me passam pela mente. Pela minha mente de mãe. E não consigo imaginar a dor daquelas mulheres. Não consigo porque parece que o cérebro me bloqueia as imagens. Porque quando a gente tem filho, a gente tende a ver no filho da gente o sofrimento dos filhos dos outros. E eu não consigo, não quero, não posso imaginar minha filha naquela situação. Naquele filme de horror.
Sempre odiei esse tipo de filme. Não vi nenhum deles. “O massacre da serra elétrica”, “Sexta feira 13”, “Jogos mortais”... não vi, não quero ver, não quero que me contem. São horríveis, mas, são apenas ficção. Ficção de horror, mas ficção.
A história de João não foi ficção.
Não foi:
tomada 1 - João tenta se livrar do cinto; a mãe se desespera porque não consegue; a irmã chora; João cai e fica pendurado... corta! (João se levanta e é substituído por um boneco igualzinho a ele)
tomada 2 - os bandidos arrancam com o carro e joão-boneco é arrastado enquanto bate com a cabeça e o corpinho na rua; pequenos pedaços de joão-boneco se esparramam no chão; uma trilha de sangue marca o caminho enquanto o carro se afasta...
Não, a história de João não foi ficção. João não era um boneco. João era um menino, como tantos outros por aí.
Deus tenha misericórdia da família de João.
Deus tenha misericórdia dos rapazes que colocaram um “the end” na história de João.
Deus tenha misericórdia de todos nós, que assistimos a tudo isso como quem vê um filme, um filme de horror, dando graças por não ter acontecido com um dos nossos meninos.
Não, não escrevi errado. Não é filme de terror. É filme de horror, mesmo.
Hoje, logo cedo, como faço todo dia, liguei o computador e vim dar uma checada nas noticias do jornal. O que eu vi me deixou sem saber o que pensar, como se alguma coisa em mim tivesse sido desligada.
João, um menino de seis anos, foi arrastado por bandidos que roubaram o carro onde ele estava por seis quilômetros. Os outros ocupantes, a mãe e a irmã de João, conseguiram sair do carro, mas João, não.
João ficou pendurado pelo cinto de segurança e os bandidos arrancaram com o carro. Percorreram quatro bairros, rodaram por dez minutos.
Eles sabiam que o menino estava lá. Andavam em zig-zag; será que queriam se ver logo livres da carga?
Quando chegaram a uma rua sem saída, abandonaram o carro e o pequeno corpo sem vida. E fugiram por uma estreita escadaria.
Eu fiquei sem palavras. Sem pensamentos.
Agora, algumas coisas me passam pela mente. Pela minha mente de mãe. E não consigo imaginar a dor daquelas mulheres. Não consigo porque parece que o cérebro me bloqueia as imagens. Porque quando a gente tem filho, a gente tende a ver no filho da gente o sofrimento dos filhos dos outros. E eu não consigo, não quero, não posso imaginar minha filha naquela situação. Naquele filme de horror.
Sempre odiei esse tipo de filme. Não vi nenhum deles. “O massacre da serra elétrica”, “Sexta feira 13”, “Jogos mortais”... não vi, não quero ver, não quero que me contem. São horríveis, mas, são apenas ficção. Ficção de horror, mas ficção.
A história de João não foi ficção.
Não foi:
tomada 1 - João tenta se livrar do cinto; a mãe se desespera porque não consegue; a irmã chora; João cai e fica pendurado... corta! (João se levanta e é substituído por um boneco igualzinho a ele)
tomada 2 - os bandidos arrancam com o carro e joão-boneco é arrastado enquanto bate com a cabeça e o corpinho na rua; pequenos pedaços de joão-boneco se esparramam no chão; uma trilha de sangue marca o caminho enquanto o carro se afasta...
Não, a história de João não foi ficção. João não era um boneco. João era um menino, como tantos outros por aí.
Deus tenha misericórdia da família de João.
Deus tenha misericórdia dos rapazes que colocaram um “the end” na história de João.
Deus tenha misericórdia de todos nós, que assistimos a tudo isso como quem vê um filme, um filme de horror, dando graças por não ter acontecido com um dos nossos meninos.
Marcia
(ainda sem palavras e com pensamentos bloqueados)
.
3 comentários:
Eu fiquei muito horrorizado, revoltado e triste com esse episódio. Meu Deus, como estará a mãe dessa criança? Que Deus console seu coração... Belo texto.
Quando eu vi a noticio eu naum me interessei tanto assim, mas fiquei triste. Mas nem tanto como todo mundo tá
Acho que o pessoal exagera um pouco, já aconteceu várias outras coisas piores que a desse menino e ninguém se mobilizou tanto.
Beijos
Sim, foi muito triste o que aconteceu com o garoto. E, assim como você, não consigo imaginar 'minha sobrinha' ou qualquer outra criança conhecida por mim sofrendo daquela maneira... O ruim é que no jornal Extra tem isso todo Dia (deve ser pq são concorrentes...) e a gente tem tanto problema - assalto, corrupção, mortes injustas, covardias... - que a gente coloca tudo no mesmo nível. O nível do 'não tem mais jeito'. E, infelizmente, não tem mais jeito.
Tem sim, a da 'bomba de napalm' (lembra do cara que sempre diz isso?) ou fazer que nem fizeram na Itália. Se as duas soluções são difíceis, aí, não sei de mais nada...
Postar um comentário