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quarta-feira, julho 27, 2011

O SORRISO DE ANA LUIZA


Domingo passado, dia 24 de julho, visitei alguns lugares que foram cenário da tragédia de Teresópolis em janeiro. Passados seis meses, pouca coisa mudou. E cenário é a melhor palavra a ser utilizada, pois a impressão que tive é a que estava visitando um lugar usado por alguma produção de filme de guerra, depois de um pesado bombardeio.

Eu vi e fotografei muitas coisas. Mas duas imagens me marcaram profundamente. A primeira foto foi feita praticamente no local onde começou o enorme deslizamento de pedras no bairro de Campo Grande. Quando cheguei aqui, parecia que estava vendo o inferno na minha frente. Nem todo inferno é feito de fogo e enxofre: esse foi feito de pedras e lama... Pela foto não dá pra se ter a dimensão exata das coisas. Essas pedras não estavam aí: rolaram do alto da montanha e muitas continuaram descendo, arrasando tudo o que estava pelo caminho. O rapaz da foto tem 1,86m; parece minúsculo ao lado das pedras...



A outra imagem, foi o sorriso de uma menina, Ana Luiza, que deve ter no máximo uns 4 anos. Desde janeiro, ela mora em uma barraca, em um dos abrigos. 


No início de ano eu trabalhei todos os fins de semana como voluntária, em várias frentes, e ver que depois de tanto tempo as coisas ainda estão assim, é muito, muito ruim. O que eu posso dizer é que domingo foi um dia de choro. E de um imenso sentimento de impotência. E de um desânimo enorme. Um grande soco no estômago. Estou atordoada até agora. 


Mas hoje eu me deparei com um texto que trata de esperança. Lê-lo foi como tomar um banho de chuva, daqueles que lavam a alma. Ainda estou triste, porque não dá para fingir que tudo o que vi era só um cenário... mas a esperança existe... e mora nos olhos de Ana Luiza. 


Que Deus me use e me ajude a fazer essa esperança brotar.


Posto agora o texto a que me referi. Boa leitura!


TEIMOSIA E ESPERANÇA
Ricardo Gondim


A humanidade é constante vai-e-vem. Avanços e retrocessos fazem a história alternar entre tragédia e farsa. Enquanto erradicamos a poliomielite, cometemos atrocidades. Revolucionamos as comunicações, mas permanecemos culpados dos mais horrorosos crimes.

No século XX, duas guerras mundiais se somaram a genocídios e extermínios étnicos para alterar, definitivamente, filosofia e teologia. Positivismo virou ingenuidade - quem ainda acredita no mito do progresso?

Em algum lugar, no Pentágono, numa cova rasa do Camboja, num escombro de Ruanda, jazem os ossos do “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau. De Camus a Martin Luther King se discorreu sobre o “mal profundo” que aleija a humanidade.  Ele existe. Entre luzes e sombras, a história se alonga, malévola, com miséria, aniquilamento de culturas, e muita, muita, dor.

Antigas formulações sobre Deus, desapareceram. Hemingway colocou na boca de Robert Jordan, personagem de “Por quem os sinos dobram”, o porquê de seu ateísmo. Para o autor, que testemunhara os horrores da Guerra Civil da Espanha, Deus não existe: “se existisse, Ele não teria permitido que eu visse o que vi com estes meus olhos”.

Por outro lado, escancarados os campos de concentração nazista, ficou claro que monstros existem. E como se multiplicam! Elie Wiesel narrou o dia em que assistiu ao enforcamento de um menino no pátio do campo onde estava preso. Perfilado, viu a criança agonizar, pendurada por minutos que pareciam uma eternidade. Ele lembra que o menino tinha "os olhos de um anjo feliz". Na fila, Wiesel ouviu alguém perguntar: “Onde está Deus? Onde ele estáOnde está Deus, então?”. Uma voz respondeu em seu próprio coração: “Onde ele está? Ei-lo – está aqui, pendurado nesta forca”. Deus estava morto e o facínora, vivo.

Nunca testemunhei tantos horrores. Mas o pouco que vi bastou para eu refazer conceitos. Revisei o que entendia por Deus. Remexi na compreensão da vida. Distingui esperança de ilusão, ideal de compromisso, ingenuidade de realismo e comecei o árduo processo de reconstruir-me sem o imobilismo do pessimismo e sem a superficialidade do otimismo.

Depois de várias reformas, continuo a acreditar na possibilidade da vida, no potencial humano e no aparecimento de artesãos da história. Mesmo quando o encarceramento da bondade parece inexorável, vejo a bondade humana como a erva que rompe o cimento. Sob camadas de iniquidade, a virtude consegue vingar. Vinho bom pode vir do lagar onde se esmagam as uvas da ira. Creio no bem que ressurge, teimoso, como força existencial. Vivo com a esperança, sei que ventos imprevisíveis reacendem o pavio que fumega.

Vinicius de Moraes, logo após a II Guerra Mundial, em 1946, disse que “o pranto que choramos juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal entendido”. Sim, a humanidade é viável - caso contrário já estaria sepultada com os dinossauros - mesmo em meio a tanta ferocidade.

A maldade, mesmo universal, mesmo arraigada, não conseguiu asfixiar o bem. Os patifes têm maior visibilidade, os canalhas amedrontam, sórdidos intimidam, contudo, "onde abundou o pecado, superabundou a graça”. Por mais que o ímpio resfolegue ódio e o tirano oprima, a morte os alcançará. Eles passarão e o lento fluir da história continuará. Basta um fiapo de luz para que se desperte fome e sede de justiça em alguém. De onde menos se espera nascerão vigorosos esforços de paz.

Os Judas, os Brutus, os Pinochets, os Husseins, os Bushes, sumirão pelo esgoto da irrelevância. No fim, quando o Diretor da peça entrar no palco e avisar que o espetáculo acabou, o malvado será apenas uma nódoa. Ele próprio se condenará como personagem da Divina Comédia. E deixará, como único legado, a possibilidade de gerar indignação nos que acreditam em outro mundo possível.

Mesmo na sordidez contemporânea, o justo acena com a aurora de uma Nova Cidade; aguarda, como sentinela, a luz da aurora virar dia perfeito. O profeta do desespero tenta, mas homens e mulheres de bem resistem. É necessário que lampejos de esperança brotem nos atos simples de bordadeiras, poetisas, teólogas, operários, jornalistas, lavradores.

O milênio começou com poucas opções. Carpideiras choram no velório dos ideais - foram contratadas para despistar a festa do Grande Capital. Na ressaca do baile progressista, alguns não acreditam que sobará ânimo para o enfrentamento do desastre sócio-ambiental.  Entretanto, a Imago Dei – imagem de Deus – nos olhos das crianças convida a humanidade a não entregar os pontos.

A doença que nos aflige não é para a morte. Ainda dá para virar o jogo. Enquanto pequeninos mantiverem louvor à vida e homens e mulheres não se ajoelharem no altar do cinismo, a promessa continua de pé: “Os mansos herdarão a terra”.

Soli Deo Gloria
27-07-11



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sábado, janeiro 24, 2009

UMA HORA TÃO TRISTE




Uma hora tão triste

Ricardo Gondim

O Getsemani foi a tua hora mais triste. Suaste sangue em teu exílio no fundo do outeiro. Foste traído. Estavas só, rodeado de amigos sonolentos.

Também vivo o meu exílio. A minha hora mais triste se arrasta faz anos. O dia mau chegou não sei quando, e se alonga perigosamente. Tenho medo. Não, não temo transpirar sangue, a ferocidade do sofrimento me amansou. Já me acostumei. Receio perder o rubor, embaçar os olhos e amargar a boca.

Minha dor lateja, queima, lacina. Enfraquece e rouba a iniciativa. Sem fôlego, converso sem graça. Para distrair, ando em círculo, deito na rede, abro a geladeira, corro os olhos no livro. Depois de cinco páginas, dou-me conta, enquanto lia pensava no vazio. Saio e dirijo, mas não lembro por onde passei. Deito e os pensamentos se desorganizam. A memória vira vulcão. Projetos mal acabados, decepções amorosas, espetadas de ex amigos, delírios religiosos, tudo explode e não concilio o sono.

Tento polir o passado com a ponta dos dedos, cerzir os erros, imaginar os outros caminhos que nunca escolhi. Tudo vão. Corro léguas para criar espaço entre coração e mente. Tudo vão. Ajoelhado, grito o Lamá Sabactani. Tudo vão. Recuo para não blasfemar. Tudo vão. Espero misericórdia. Tudo vão. Mudo o nome para Sísifo. Tudo vão.

A dor sepulta minha pouca leveza, sufoca minha rara espontaneidade, solapa o meu frágil entusiasmo. Não vejo benefício, funcionalidade ou propósito em gemer. Não fui punido, não pago por maldades de vidas passadas, não sou alvo da ira divina. Cumpri os mandamentos, chorei todos os pecados, lamentei as inadequações, penitenciei as omissões. Não é possível que ainda precise padecer tanto.

A dor não aceita explicações. Ela se assenhorou de mim. Agora ordena que a respeite como dona da minha sorte. Mesmo sem querer, aprendi a obedecê-la. Reconheço que nunca hei de derrotar a dor; por enquanto, só quero aprender a conviver com ela.

Soli Deo Gloria.

quarta-feira, novembro 26, 2008

CARTA AO AMIGO QUE SE SUICIDOU

Eu tive um amigo que se suicidou. (Verbo estranho esse: se ninguém pode suicidar outra pessoa, porque a obrigatoriedade do pronome reflexivo "se"?) Bem, quando o Ronaldo se foi, alguns questionamentos me invadiram. A gente já não se via há algum tempo, mas será que alguma coisa que eu fiz ou deixei de fazer poderia ter influenciado essa decisão maldita?

Por algum tempo, meu coração ficou atormentado com essas dúvidas; depois, como quase tudo na vida, elas também foram se
tornando em névoa, se dissipando, e acabaram por não mais incomodar. Até que eu li esse texto do Ricardo Gondim, que reproduzo lá embaixo.

A primeira pessoa em quem pensei quando vi o título foi o Ronaldo, não tinha como ser diferente. Lembrei dos seus grandes olhos azuis, do sorriso tão lindo, das nossas brincadeiras de adolescência, dos planos que ele tinha para o futuro... Bem, o futuro pra ele não chegou, mas ainda posso guardar na lembrança o rosto sempre sorridente do menino que morava do outro lado da rua e que deixava poesias em papeizinhos dobrados presos nas grades do meu portão...

Depois, pensei nos amigos com quem convivo atualmente. Lembrei dos mais próximos, dos nem tão próximos... daqueles que vejo praticamente todo dia, dos que eu vejo menos do que gostaria...

Pensei nas vezes em que pude dividir sorrisos, mas também nas em que dividimos lágrimas.

Pensei nas vezes em que fui ajudada, em que pude ajudar, em que precisei de ajuda e tive, em que precisei de ajuda e não tive.

Pensei nas vezes em que o afeto me foi dado e nas vezes em que chorei sozinha...

Pensei mais um monte de coisas... depois de tanto pensar, mais uma vez cheguei ao óbvio: amigos são a família que a gente escolhe; são pessoas maravilhosas, mas que como todos nós, tem seus defeitos; que muitas vezes podem nos ferir, assim como nós também fazemos...

Mas, acima de tudo,
amigos são um presente muito, mas muito precioso mesmo que Deus nos dá.

E eu agradeço a Deus por cada um dos meus amigos!
E peço a ele que me ajude a cuidar bem dessas pessoas com que me presenteou: cada uma com seu jeito, seu cheiro, seu gosto, suas certezas, suas dúvidas, seus acertos, seus erros... mas todas peças importantes nesse mosaico louco que é a nossa vida!



Carta ao amigo que se suicidou.
Ricardo Gondim

Quisera dar-te, amigo, todas as coragens que me tornaram ousado quando conquistei a mulher amada. Dar-te-ia também os medos que frearam a ensandecida ladeira da minha irresponsabilidade juvenil. Cortaria um pedaço do coração para transplantar para teu peito a felicidade do primeiro beijo que desvirginou os meus lábios. Eu também te convidaria para pedalar ao meu lado até a mangueira grande e discreta, onde, solitário, confidenciei em solilóquios intermináveis, alguns sonhos impossíveis.

Quisera dar-te, amigo, todos os questionamentos e descobertas que já fiz sobre o mistério de Deus. Eu te convidaria a assistir ao meu primeiro rasgo de conversão. E como, hesitante, desejei a verdade, a mesma verdade que insiste em distanciar-se de mim sempre que imagino tê-la em meus braços. Eu te faria parceiro da minha Primeira Comunhão católica em Londrina; chamaria para presenciar a noite da Profissão de Fé presbiteriana; convidaria para o culto de oração onde recebi o Batismo no Espírito Santo pentecostal; conversaria, inclusive, sobre a minha recente abertura para a espiritualidade existencial. Eu quisera ensinar-te que a jornada em direção ao Divino não é sempre ascendente, mas repleta de altos e baixos. Repartiria assim meus entusiasmos e tristezas para trançarmos nossa amizade como uma corda de muitos fios.

Quisera dar-te, amigo, os instantes magros em que não contabilizei fracassos, só encarei o dever de perseverar. As esperanças idealizadas não pareciam quixotismo. Os projetos faraônicos se mostravam perfeitamente alcançáveis. Tapei enormes buracos com minha ingênua boa vontade; relevei decepções, convencido que não passavam de mal-entendidos. Presentear-te com desapontamentos seria meu jeito de pedir: não desista. Não vire o tablado do jogo. A vida é assim; os homens não são sempre confiáveis, Deus sim.

Quisera dar-te, amigo, meu ouvido discreto, meu olhar atento, meu abraço silencioso. Sinto o ímpeto de colocar-me na trajetória da bala, na frente do trem, no olho do furacão, no meio do terremoto. Para poupar-te, estaria disposto a ser antídoto, escudo, parapeito, bóia, escada, pára-quedas. Faria qualquer coisa: massagem cardíaca, respiração boca a boca, transfusão de sangue. Podias fazer de mim psicanalista, confessor, saco de pancada. Não te condenaria. Não te cobraria. Não te rejeitaria, contanto que disseses que não jogaria a toalha.

Amigo, saber que segastes a vida por conta própria foi o golpe mais duro que já levei. E eu, que não te conhecia tão bem, acordei desolado neste mundo árido. Carregarei a sensação de que poderia ter sido o amigo mais achegado que um irmão. Não fui. E todos perdemos. Mas ao contrário de ti, não vou desistir, sei que ainda posso ser amigo de outro.

(Faz pouco tempo; ainda dói)

Soli Deo Gloria




segunda-feira, novembro 03, 2008

CONSELHOS PARA A VIDA

Texto de Ricardo Gondim


Viver não é para amadores. Cuidado, não se perca! Portanto, muito siso.

Cuidado com as palavras. Não fale sem pensar; não dispare conceitos sem considerar quem lhe ouvirá. Não prometa milagre sem levar em conta a mãe que, naquele exato momento, troca as fraldas do filho tetraplégico. Não se gabe de ter acordado com saúde; o que essa gratidão significará para o homem que mal se recuperou da hemodiálise? Nunca defenda verdades livrescas, proteja o que promove a vida, considera o perdão e espalha o bem.

Cuidado com o comportamento. Não priorize desafios estratosféricos, tenha tempo para as pessoas. Não lute para cumprir roteiros alheios, prefira a alegria de arrepiar a pele com o afeto gratuito de gente simples. Não se satisfaça em imitar os bem sucedidos, escolha ser um caderno cheio de rabiscos mal corrigidos a uma Suma acadêmica. Não permita que as suas convicções se tornem exigentes, não se deixe suicidar por sua lucidez. Cante mesmo desafinando e dê de ombros se lhe acharem biruta. Fale sozinho. Não tenha vergonha de brigar diante do espelho, aponte o dedo e diga: “como você é ridículo”.

Cuidado com as companhias. Exile-se de seu castelo e vá ao encontro da mulher que aprendeu a voar com a elegância das aves que fogem do inverno. Seja parceiro de quem não esconde a lágrima na hora da emoção. Enlace o amigo que saiu em busca de si – ele pode ajudar a encontrar o homem que um dia você foi. Contudo, não se blinde contra o medíocre, acolha graciosamente quem lhe feriu e seja longânimo com o vil. Desça ao fosso onde jazem e peça um traço de luz para colorir suas patéticas existências.

Cuidado com os sentimentos. Abra-se para o imponderável e se atreva a viver sem apoios. Não tema a insegurança do porvir duvidoso. Arrisque-se, exponha-se. O cauteloso acaba pachorrento. Vidas bem pautadas são exemplos de pusilanimidade. Coma fruta da árvore, sem lavar; dance bolero; tente aprender judô; seja voluntário da Cruz Vermelha; compre pastel de feira-livre.

Cuidado com o tempo. Fixe o átimo ligeiro em sua retina. Torne-se um colecionador de momentos. O tempo passa como uma enxurrada, leva tudo e todos, mas não destrói o que a “alma provou e aprovou”. A mente só guarda o que lhe trouxe alegria, portanto, aprenda a transformar os espaços em catedrais, os dias em sábados, os encontros em alianças e as preces em poesia.

Aconselho tanta precaução porque a vida é frágil e fácil o caminho para a infelicidade. Antes que o coração fatigado se recuse a bater, antes que os olhos se fechem com a tristeza da morte, insisto, tome cuidado.

Soli Deo Gloria

segunda-feira, dezembro 10, 2007

SOBREVIVENDO NO MUNDO VIRTUAL

Quando achei esse texto do Gondim, lembrei de uma pessoa que me disse que "nunca tivemos tantos meios para nos comunicarmos... e nunca as pessoas se comunicaram tão mal quanto agora".

A verdade é que atrás de uma tela de computador, qualquer pode se esconder... ser o personagem que quiser...

É lógico que podemos encontrar muitas pessoas sinceras, que se tornam amigos de verdade. Mas, como diz um ditado muito antido, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém...



PISTAS PARA SOBREVIVER NO MUNDO VIRTUAL
Ricardo Gondim

1. Nunca, jamais, responda quem lhe contradisser – você nunca sabe se a mensagem foi mais uma armadilha para colocar-lhe numa sinuca de bico.

2. Sempre, mas sempre mesmo, responda a um questionamento com mais perguntas.

3. Não se encante com relacionamentos virtuais – amigos e inimigos da Internet não existem, eles devem ser considerados meras virtualidades.

4. Nunca, jamais, conteste as idéias alheias; se foram colocadas na Internet, elas são o resultado de uma vontade doida de provar algum ponto de vista, portanto, suas críticas não serão bem vindas.

5. Sempre, mas sempre mesmo, apague as mensagens rancorosas pelo título ou, no máximo, antes que você termine de ler a primeira linha. Essa será sua vingança, o cara escreve um quilo de argumentos, gasta três horas para redigir alguma coisa, e em menos de 5 segundos o esforço dele vira nada. A tecla “Delete” é a mais poderosa arma que você possui, use-a.

6. Nunca, jamais, imagine que seus e-mails serão mantidos no privado. Jamais confie na confidencialidade da troca de correspondência virtual. Suas mensagens correm todo o risco de serem publicadas, seus desabafos jogados na rede mundial. Os escrúpulos virtuais são quase nulos. Não confie na promessa de que, “o que conversarmos aqui ficará só entre nós”. Quando escrever, considere que do outro lado existe alguém doidinho para praticar alpinismo em cima do seu nome.

7. Sempre, mas sempre mesmo, verifique a autenticidade de um texto. Quando re-encaminhar alguma coisa que recebeu, tome o cuidado de averiguar quem foi o autor. Nunca envie nada que esteja assinado: Autor Desconhecido.

8. Nunca, jamais, responda a qualquer provocação de e-mails anônimos. Na rede é comum se criarem identidades postiças, os famosos “nicks”, que na verdade, não passam de pseudônimos. Uma pessoa que não teve sequer a imaginação de virar outra pessoa e assina “anônimo” não merece uma resposta.

9. Sempre, mas sempre mesmo, prefira o silêncio à cretinice. Existe um ditado popular que diz: “As perguntas imbecis merecem respostas cretinas”. Este provérbio não se aplica à Internet. Dê o seu desprezo aos que mais lhe provocarem.

10. Nunca, jamais, deixe o mundo virtual vazar para sua vida real. Não se abata por ataques, difamações ou pedradas que você receber na Internet e nem se encante com os elogios. Lembre-se, o mundo virtual dos blogs, sites e “power points” não existe. Só o mundo concreto tem calor, pele, cheiro, afetos. A vida acontece no encontro dos olhares, no apertar das mãos. Desligue o seu computador, dê as costas para essa pseudo realidade, e vá viver.

Soli Deo Gloria.

terça-feira, novembro 27, 2007

ECLESIASTES AGONIADO



Depois de tudo, fica a sensação do dever descumprido. Resta um oco de mundo que vai para além da senda finita. Tudo parece se alongar na madrugada escura. Quanto mais se tenta, nada se alcança; quanto mais espera, menos da grande guinada. Sobra o olhar triste do menino afegão. O andar soturno do iraquiano desperdiçado pela guerra, desalenta. O choro quieto da sertaneja mirando a cova do filho, estupidifica.

Depois de tudo, fica o vestígio corroído de rostos, gestos e cheiros; resta o daguerreótipo amarelado de amores perdidos e abraços esquecidos. Quanto mais se procura, mais aparecem amigos sem nome, lugares sem registro, dias sem data. Na mesa, as garrafas vazias; no sorriso, a alegria postiça; no olhar, o passado borrado.

Depois de tudo, ficam a noite insone, os pensamentos acelerados, a tristeza sem causa; resta o pânico inconsistente que nasce tanto da timidez exangue como da inflexão incômoda. Quanto mais se corre, mais falta sangue; quanto mais se tenta gritar, menos fôlego; quem insistir, perceberá o garrote que aperta a alma.

Depois de tudo, ficam a cisma, o vilipêndio, a intimidação; restam a circunspeção alarmada, o cálculo frio, a pusilanimidade fugidia. Quanto mais esforço, mais passos inexistentes apavorando. Censuras irreais embotam o espírito; fatigam as falsas malquerenças. A reprimenda soa como danação eterna e outros, energúmenos.

Depois de tudo, fica a insignificância da vida diante da fúria do tempo. Os relógios viram loucos varridos, os calendários, tigres famintos e nós, centelhas diminutas. Na fresta das eternidades, antecipamos o sol que nos consumirá. Do mirante da juventude, despencamos para a garganta da morte. Liliputianos, terminaremos insubstanciais.

Depois de tudo, fica a sede pelo transcendente. Resta uma vontade doida de repetir: “Ainda não, ainda não”. E rogar: “Por favor, não nos deixe, o dia já está quase findando e estamos com medo desta noite tenebrosa”!

Soli Deo Gloria.


Ricardo Gondim
http://www.ricardogondim.com.br

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sexta-feira, julho 20, 2007

PROCURAM-SE AMIGOS

Hoje é "dia do amigo"!

O bom é saber que amigos de verdade não precisam disso pra lembrarem um do outro.

Amigo de verdade é aquele que tanto faz se você vê todo dia, fala todo dia ou se só vê de vez em quando, só fala uma vez ou outra... mas a amizade não se abala por causa disso.

Amigo de verdade é aquele que conhece a gente direitinho... mas ainda assim, continua sendo amigo.

Amigo de verdade é aquele que diz pra gente aquilo que ninguém mais tem coragem de dizer, porque amigo de verdade não se preocupa tanto em nos agradar como se preocupa em nos ver felizes.

Deus me deu diferentes amigos, em diferentes lugares, em diferentes situações... mas, todos eles, cada um do seu jeito, contribuiram pra que hoje eu seja quem eu sou.

Que Deus, nosso amigo maior, abençoe a cada um de vocês!

Deixo aqui um texto do Ricardo Gondim, presentinho pra vocês!


PROCURAM-SE AMIGOS

Quando eu era menino, mamãe me aconselhava a tomar cuidado com os meus amigos. Depois, quando cresci mais, papai repetiu para mim o surrado provérbio: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Não consigo avaliar se consegui obedecê-los, mas, por outros motivos, venho trocando de amigos.

Cheguei à meia idade bem decepcionado com a palavra Amizade. Como reluto para não tornar-me cético, busco andar ao lado de verdadeiros amigos, porém, isso não é fácil.

Por causa da internet, consegui encontrar um companheiro bem antigo, que imaginei ser um bom amigo. Eu havia perdido contato com ele há alguns anos. Redigi uma mensagem cheia de afetos e saudade e supliquei-lhe que retomássemos nossos vínculos. Acrescentei que anelava por companhia. Ele agradeceu a minha “carta eletrônica” e propôs que, daquele dia em diante, compartilhássemos nossos esboços de sermões. Quase chorei. A última coisa que eu queria dele era o “esqueleto” de suas pregações. Mesmo com tantas decepções insisto em garimpar bons amigos.

Quero ser amigo de quem valorize a lealdade. Mesmo depois que ditadura militar soltou meu pai, o estigma de “subversivo” grudou-se nele. Um dia papai me contou, com lágrimas nos olhos, que seus antigos colegas da Aeronáutica desciam a calçada para não se verem obrigados a lhe cumprimentarem publicamente. Ainda guardo esse trauma e, sinceramente, não consigo lidar com amizades que só se mantêm por causa de conveniências, qualquer uma. Quero acreditar em amizades que não se intimidam com censuras, que não retrocedem diante do perigo e que não abandonam na hora do apedrejamento. Amigos não desertam.

Quero ser amigo de quem eu não precise me proteger e que não tenham medo de mim. Não creio em companheirismos repletos de suspeitas. Os grandes amigos são vulneráveis. Conversam sem se policiar, rasgam a alma e sabem que seus segredos jamais serão lançados em rosto ou expostos publicamente.

Quero ser amigo de quem não se melindra facilmente. Por mais que tente, continuo tosco; magôo meus amigos com meus silêncios, com minha introspecção e, muitas vezes, com meus comentários ácidos e impensados. Portanto, preciso de amigos que tolerem minhas heresias, minhas hesitações e meus pecados. Busco amizades que agüentem o baque das minhas inadequações. Preciso de amigos teimosos.

Quero ser amigo e não um mero cúmplice de vocação. Já preguei em algumas igrejas que, depois que o pastor me deixou na calçada do aeroporto, nunca mais tive notícias dele ou de sua igreja. Não quero colocar meu nome em conferências e congressos que me dêem prestígio ou que eu sirva só para reforçar a programação. Não tolero manifestações artificiais de coleguismo restritas a cultos festivos. Para mim, nada é mais ridículo do que ficar proclamando que somos uma “só família” em Cristo para depois sair criticando uns aos outros com farpas venenosas.

Quero ser amigo de quem não contenta em re-encaminhar mensagens re-encaminhadas de power-point da internet. Não gosto de cartões de aniversário com frases prontas e com obviedades. Acredito que os verdadeiros amigos têm o que repartir e que sentem necessidade de expressar seus sentimentos, suas dúvidas e principalmente seus medos e desesperos. Amizades superficiais são mais danosas para o espírito do que inimizades explícitas.

Quero ser amigo de quem não é muito certinho. Não tolero conviver com gente que nunca tropeça nos próprios cadarços, que nunca teve sonho erótico e que mantém a língua sob controle absoluto. Vez por outra, gosto de relaxar, rir do passado, sonhar coisas malucas para o futuro e conversar trivialidades. Quero amigos que se deliciem em ouvir uma mesma música duas vezes para perceber a riqueza da letra; de comentar o filme que acabaram de assistir, o último livro que leram e de, numa mesma conversa, elogiar e espinafrar políticos, pastores, atores, árbitros de futebol e serem capazes de chorar com poesia.

Quero terminar meus dias e poder dizer que, mesmo descrendo das ideologias, dos sistemas econômicos e das instituições religiosas, acredito em verdadeiras amizades, porque tive bons amigos. Até porque Deus não só ama, como também nos chamou de amigos.

Soli Deo Gloria.


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MINHA LITANIA - Ricardo Gondim

Esse texto do Ricardo Gondim, me foi passado por um amigo, o Filippo.


Minha litania.

Porque somos tão despercebidos da brevidade da vida.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque acumulamos riqueza imaginando que viveremos por longos anos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque nos conformamos com a maldade impessoal do mercado.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque aceitamos a inevitabilidade da guerra.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque não questionamos haverem muitos pobres e poucos ricos nas penitenciárias.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque nos indignamos com as súbitas desgraças e nos aquietamos com os holocaustos crônicos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque calejamos a alma para não nos revoltarmos com a mortandade africana.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque pagamos fábulas de dinheiro aos pilotos de carros de corrida e deixamos os professores com salários minguados.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque aceitamos que filhos de políticos também sejam candidatos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque tentamos fazer de Deus um servo para nos prover o que precisamos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque nos acostumamos com as cisternas podres e abandonamos as fontes de água cristalina.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque somos religiosos semelhantes aos algozes de Jesus de Nazaré.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque, como Tomé, precisamos ver para crer.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque continuamos parecidos com os nossos pais.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque só te pedimos misericórdia de vez em quando.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Soli Deo Gloria.


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