quarta-feira, dezembro 21, 2011

NATAL, UMA VEZ POR ANO



Natal, uma vez por ano
Ricardo Gondim


Eu era menino e achava que o natal devia acontecer todas as semanas. Depois, na adolescência, pensei que um por domingo era demais. Na vida adulta, acabei me contentando com dois natais: o meu e o de Cristo.

Chego à madureza sem detestar ou supervalorizar o natal.

Acho bom que uma vez por ano pelo menos, alguns saiam da rotina e visitem hospitais, lares de idosos, creches. Sei, sei, isso devia ser feito semanalmente. Concordo, natal serve para aliviar a consciência de quem gastou os outros trezentos e sessenta e poucos dias do ano basicamente com ele mesmo. Mas não sejamos tão cruéis com a humanidade – pequenos gestos valem.

Acho bom que uma vez por ano pelo menos, procuramos nos comportar como o Samaritano da parábola. Mesmo com todo o apelo consumista, intuitivamente, recordamos que Jesus de Nazaré contou aquela estória não só para nos ensinar a ser bons, mas para deixar claro quem viverá com Deus. Certo rapaz perguntou-lhe o que devia fazer para herdar a vida eterna. “Ame a Deus e ao seu próximo”, respondeu o Rabino de Cafarnaum. Como não estava mesmo interessado com a resposta, o mancebo retrucou: “E quem é o meu próximo?” Daí nasceu a parábola: “Um homem viajava por uma estrada deserta e perigosa. Assaltantes o abordaram e tiraram tudo o que possuía; depois de espancar, deixaram o pobre meio morto na beira da calçada. A caminho dos ofícios religiosos, passavam por ali sacerdote e teólogo. A dor do que agonizava não os sensibilizou. Eles não pararam; provavelmente, sem tempo para socorrer o moribundo. Mas um estrangeiro o viu naquele estado miserável e se condoeu. Parou e cuidou dele”. O arremate de Jesus foi contundente: “Aprenda a reconhecer no desconhecido o seu próximo. Se quiser herdar a vida eterna, cuidado, nunca seja indiferente; aja como o samaritano”.

Acho bom que uma vez por ano pelo menos, nos lembramos de reunir família e gente querida ao redor da mesa. Juntos fazemos uma refeição litúrgica e comer se torna um rito sagrado. Avisamos à alma: precisamos parar e esperar uns pelos outros. Dizemos que “com-panhia” (com-pão) tem a ver com a alegria de repartir. De tarde, enquanto se prepara a comida, do forno quente brotam memórias. Empilhados, cada prato tem dono (alguns se foram, meu Deus, quanta saudade!). E o brinde promete continuarmos juntos, venha o que vier. Jantamos. As grades do berço primordial, que um dia nos protegeu, ganham ares de parapeito. As pessoas que amamos são o parapeito, a segurança mínima, que precisamos na vida inclemente, e no precipício do tempo.

Acho bom que uma vez por ano pelo menos, acendemos luzes e, de alguma forma, nos conectamos a Deus, pai das luzes, que não abriga sombra em seu caráter. Se somos ambíguos e sutis em nosso convívio, no natal procuramos ser íntegros. Esforçamo-nos para não deixar o lado cavernoso, dissimulado, escuro, reinar sobre o resto de nossa humanidade. Escrevemos votos de alegria, reanimamos a esperança e apostamos na grandeza do outro.

Acho bom que uma vez por ano pelo menos, celebramos o Deus menino. O reino celestial, nos garantem os Evangelhos, tem características infantis. Cristãos festejam a fragilidade do bebê que dependeu dos braços maternos e das decisões paternas para sobreviver. Esvaziado, humilde e carente, Deus se revelou à humanidade numa estrebaria. Talvez nessa revelação repouse a mais alvissareira mensagem do cristianismo: Deus abraçou a humanidade em sua pequenez. Desde cedo, no desterro do Egito, conviveu com olhares odiosos. Criticado dentro de casa, soube amargar a incompreensão. Caçado e morto por sacerdotes e políticos promíscuos, experimentou o abandono derradeiro. No que sofreu, Jesus se tornou o patrono dos desgraçados, paraninfo dos sem-teto, amigo de proscritos. Ele é o ânimo dos que se desgastam pela justiça; o aceno de esperança para os que nadam contra a correnteza. Nele reside a promessa de que o bem semeado no mar da iniquidade jamais será esquecido.

Acho bom que uma vez por ano pelo menos, cuidamos para que cínicos não tomem conta da vida. Sempre vale a pena celebrar, se acendemos uma centelha, um brilho, nos olhos de algum pobre, doente, idoso, discriminado, exilado, viciado, abandonado. Se não conseguirmos, podemos até fingir que estamos alegres no natal; quem sabe a gente gosta de se sentir alegre e quer repetir o natal em outros dias?

Soli Deo Gloria
extraído do site www.ricardogondim.com.br.





Antigos posts meus sobre o Natal:
- Aleluia, versão soul http://bit.ly/htaj0d
- A lenda da bengalinha – candy cane http://bit.ly/ia9DfW
- Músicas tradicionais - http://bit.ly/gh4bof
- Já é Natal na Leader Magazine http://bit.ly/hyh6bk
- Bela estrela, a mais bela poesia http://bit.ly/frptz0
- Mary, did you know? http://bit.ly/ecAcO6



sábado, dezembro 17, 2011

A VIDA É TÃO RARA!

Eu sempre gostei de circo. Quando criança, em Teresópolis, sempre que tinha circo eu e meus irmãos íamos ver  "o maior espetáculo da terra", o que, na minha concepção criança, não era exagero algum. Meu primeiro circo foi o Garcia, depois o Vostok... Lembro de fazer coro com as crianças: "Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor! Hoje tem goiabada? Tem sim, senhor! E o palhaço, o que é? Ladrão de mulher!" Outros circos vieram, mas só me lembro do último que assisti lá, o do Marcos Frota. Cresci, mudei, e fui em outros circos... a última vez, há uns dois ou três anos, aqui na Praça XI, no Rio, um circo do qual esqueci o nome, mas que tinha um balé das águas... 


Mas, por que toda essa conversa de circo?






Em 1989 me mudei para Niterói. Conversando com algumas pessoas, soube que lá nunca tinha circo, pois a cidade tinha ficado traumatizada por uma tragédia ocorrida muitos anos antes, num circo que se apresentava lá. Ouvi alguns relatos curtos, que falavam do grande incêndio, do desespero da população, dos milhares de voluntários que se uniram para levar gelo e água aos hospitais onde os feridos estavam. Também soube que foi aí o surgimento do Profeta Gentileza, figura mítica aqui do Rio, que deixou sua marca pintada em painéis nos pilares dos viadutos próximos à Rodoviária Novo Rio: "Gentileza gera Gentileza.


Essa semana, zapeando a TV, descobri que o incêndio no Gran Circus Norte Americano em Niterói, a maior tragédia num circo no Brasil, completa 50 anos hoje, 17 de dezembro de 2011.


Em 50 minutos, quase 400 pessoas foram mortas no local, além de mais de 100 outras vítimas nos hospitais, entre queimados e pisoteados. O Estádio Caio Martins virou uma fábrica de caixões. Durante dias, pessoas doavam sangue, água, medicamentos, lençóis e gelo. Muitos corpos nunca foram reconhecidos e até hoje pessoas tentam saber notícia dos seus desaparecidos.


Por volta do ano 2000, eu estava morando mais uma vez em Niterói. E depois de tanto tempo, era a primeira vez que um circo estava lá. Muitos dos moradores mais antigos não quiseram ir, pois o trauma vivido ainda doía. Mas eu fui. E foi a primeira vez que a minha filha, com seus 4 anos, ia em um circo. Foi muito lindo ver os seus olhinhos brilhando com o que ela via, a carinha de susto e apreensão com os malabaristas e trapezistas, o riso solto com os palhaços.


As tragédias acontecem e com uma frequência muito maior do que podemos digerir, isso é fato. E se tem uma coisa que devamos aprender com elas é que devemos valorizar a vida, que, no seu sentido pleno, se torna cada vez mais rara. Afinal, o espetáculo não pode parar...


Desde o dia 15 já sabia que iria escrever algo hoje, no dia do "aniversário" do incêndio no circo. Mas nem de longe poderia imaginar que escreveria logo após receber a notícia do suicídio de um amigo.  


É, a vida é tão rara!




Nos links a seguir, história e depoimentos sobre o incêndio no circo e algumas fotos da tragédia em Niterói e matéria do JB de hoje, 17/12/2011, sobre o assunto.


Para quem quiser saber mais, o jornalista Mauro Ventura lançou recentemente o livro "O espetáculo mais triste da história", em que narra a tragédia do Gran Circus.


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domingo, dezembro 11, 2011

UMA NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE O NATAL



As festas de fim-de-ano sempre foram muito comemoradas pela minha família. E família grande, diga-se de passagem: minha mãe tem doze irmãos, e o meu pai, nove. Era sempre assim: almoço do dia de Natal com minha família paterna e almoço de Ano Novo com minha família materna. E era sempre muito bom, divertido, alegre: eram dias em que a enorme família podia se encontrar, botar o papo em dia, rever pessoas que, por morarem longe, muitas vezes só encontrávamos nesse dia. 

E apesar da barulhenta reunião, uma característica sempre se mantinha nas duas festas: agradecer a Deus pelo nascimento de seu filho e pelo ano que se encerrava e pedir pelo que se iniciava. Não tinha como ser diferente, sendo membro de uma família com fortes tradições cristãs (a paterna, católica; a materna, protestante).

De um tempo pra cá, porém, vejo muitas famílias (não a minha!) se distanciarem da comemoração do Natal, alegando ser este uma festa pagã. Esse fato sempre me causou estranhamento e tristeza. Afinal, se faço a festa do meu aniversário em um dia em que alguém comemorar alguma festividade pagã eu estaria "paganizando" a minha comemoração?

Bem, a esse respeito, encontrei no site Prazer da Palavra, um texto simples e direto, que reproduzo aqui abaixo.

Ah... antes que eu me esqueça, tenham todos um Feliz Natal! Como disse o Carlinhos Veiga hoje cedo no Twitter, Natal é a anunciação cósmica do grande amor de Deus.


Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho


O Natal tem sido combatido por estranhos cristãos. Alegam que o Natal é a festa pagã do culto ao Sol. Conclusão precipitada. Tendo que escolher uma data, escolheu-se aquela porque se considera que Cristo é o sol da justiça (Malaquias 4.2). Combatem a árvore de natal, dizendo-a resquício do culto pagão às árvores. Esquecem que a Bíblia abre e fecha com a presença de uma árvore (Gênesis 3.9 e Apocalipse 22.14). Mas o estranho é guradarem festas judaicas, que se tornaram festas pagãs com o advento de Cristo, sendo coisas passadas à luz de Colossenses 2.16-17.

O cristianismo e a Bíblia expressam as verdades de Deus na cultura do povo, não em uma cultura angelical. Os quatro títulos duplos que aplicamos a Jesus, em Isaías 9.6 (“Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”) eram usados na sagração do novo Faraó, no Egito. O profeta os aplicou a Jesus. O domingo, dia do Senhor, era o dia do culto ao Sol, na mitologia de alguns povos europeus. Mas o dia em que Cristo ressuscitou. Não é preciso negar ou modificar tudo porque se descobriu um aspecto que não corresponde ao que pensávamos. Isto é insensatez: jogar tudo fora por causa de uma parte. Meio entendimento é pior que nenhum entendimento. Principalmente se produz estabanamento intelectual.

Natal não é festa pagã. Isso soa como falta de inteligência. É a comemoração do nascimento de Jesus. Se a data não foi 25 de dezembro, qual é o problema? A Páscoa, quando se comemora a morte de Cristo, cada ano cai num dia. Mas não invalida a morte vicária de Cristo.

O legalismo e a postura de alguns em reinventar e redescobrir o evangelho são atitudes negativas. Pergunte-se a um cristão sincero, não desses cheios de empáfia que descobriram que todo mundo fez tudo errado até hoje, o que ele comemora no dia 25 de dezembro. Ele dirá: “O nascimento de Jesus”. Na falta de data específica, ficou-se com esta. Qualquer outra suscitaria uma crítica de alguém. Que critiquem.

O erro não é comemorar o nascimento de Jesus. O erro é trocá-lo por Papai Noel, é olhar o aspecto apenas humano e sentimental da ocasião e esquecer o aspecto espiritual. Por isto, comemore o Natal. Com gratidão a Deus. Louve-o por seu Filho, Jesus Cristo, nosso Salvador.

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho


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