sexta-feira, setembro 10, 2010

OBSERVAÇÕES NO METRÔ



Estou completando seis meses no meu trabalho no Centro do Rio. O meio de transporte que uso para ir e voltar é sempre o metrô.  São em média vinte minutos para ir e mais vinte para voltar, de segunda à sexta, sempre no horário de rush, o que significa que pego metrô lotado todos os dias e que posso contar nos dedos de uma das mãos as vezes em que pude ficar sentada.

Os problemas que o Metrô Rio apresenta todo mundo já conhece: superlotação, ar condicionado insuficiente, inúmeras paradas entre uma estação e outra enquanto “estamos esperando a normalização do tráfego à frente”.

Mas não é sobre isso que quero falar. Quero contar aqui algumas observações que fiz nesses seis meses convivendo com muito mais pessoas dentro do Metrô do que a física diz ser possível.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas que lêem durante a viagem. Algumas ficam dentro do vagão por duas estações, mas mesmo assim, aproveitam esse momento para ler. E se lê de tudo: bíblias, jornais, livros, revistas de notícias, revistas de fofocas, apostilas de cursos. Percebi também a grande quantidade de livros religiosos, principalmente os espíritas.

A segunda coisa é sobre o vagão destinado às mulheres. Aliás, aqui são duas observações. O vagão das mulheres é muito mais barulhento do que os vagões mistos. O burburinho por vezes beira o insuportável. No fim do dia, é até um pouco menor, mas, incomoda mesmo assim. A outra coisa sobre o vagão feminino é que, embora a idéia é que fosse um espaço destinado a proteger as mulheres do assédio físico quando o vagão está cheio, muitas mulheres preferem ir no misto, pois alegam que o assédio de outras mulheres é muito mais agressivo do que o dos homens nos vagões mistos.

Ainda sobre o vagão das mulheres, é absurda a quantidade de homens que entram nele e fingem que não sabem que estão num lugar onde não deveriam; dizem que só perceberam depois que já tinham entrado e as portas se fecharam. Ora, se perceberam só depois das portas se fecharem por que não trocaram de vagão na estação seguinte? Eu acho que o vagão feminino deveria ser destinado às mulheres durante todo o dia, e não somente nos horários de rush.  Afinal, se tem menos gente circulando, qual o problema em se destacar um vagão durante o dia todo? E também acho que ele deveria ser diferente dos outros, pintado por dentro e por fora de uma forma que até mesmo os mais distraídos percebessem que ali homem não deveria entrar.  Embora o vagão exclusivo seja um direito garantido por lei, eu quase não o uso, por concordar a respeito do assédio agressivo e me sentir muito incomodada pelo barulho da mulherada.

A terceira observação é sobre a “cara” do brasileiro. É incrível a diversidade do nosso povo. Tem gente de todas as cores, alturas, formatos, feitios. Acho isso muito, mas muito bonito mesmo.

A quarta observação é quanto o sapato diz sobre uma pessoa. De modo geral, quase sem exceção, só de olhar o sapato/sandália dá pra saber como a pessoa se veste, como é o cabelo e, no caso das mulheres, a maquiagem. Parece que o que usamos nos pés acaba sendo uma grande fonte de informação sobre cada um de nós.

A quinta coisa que me chama a atenção é que grande parte das pessoas usa fone de ouvido, e, normalmente, com um volume muito alto. Acho que daqui a alguns anos, quase todos estarão apresentando problemas de audição, se é que já não os tem.

A sexta observação é que a maioria dos homens usam camisas listradas.

Pra terminar, uma observação boba: existem muito mais cores de esmalte do que eu poderia imaginar...


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11 comentários:

Alex Fajardo disse...

Muito legal suas observações rss... Gostei do texto.

bjs

Dolores Fernández disse...

Márcia, que texto delicioso. És uma excelente cronista do cotidiano, com observações bem sacadas. Continue! Bjs.

Paulo Cassiano disse...

muita coisa sendo lida, muito música alta sendo ouvida, muita gente espremida... será que disso tudo sai algum 'caldo'? :P

Anônimo disse...

eu também gostei, viu?!!!!!
vianna

Marcia Carvalho disse...

Alex, Dolores, Paulo

Fico feliz que tenham gostado! Assim, me animo a escrever com mais frequência... rsrs

Obrigada pelo carinho!

Marcia Carvalho disse...

Tiago, meu mano anônimo!

Que bom te ver por aqui!

Abração, véi...

Cristina Danuta disse...

Oi Marcia.

Também gostei das suas observações e de ter voltado a escrever. Mas será que dá para não ficar tanto tempo sem escrever? (Olha o puxão de orelha aí gente rs).

Observando as coisas que acontecem no metrô, o que não falta é história pra contar.

Beijos

Marcia Carvalho disse...

Oi, Cris!

Pois é, eu sei que o puxão de orelha é merecido e necessário... rsrsr

Brigadinha pelo carinho!


bjk

Marcos Vichi disse...

Olá Márcia,

Que saudade do tempo em que eu gastava 30 ou quarenta minutos para ir de casa para o trabalho e vice versa!

Hoje, morando em Niterói, levo duas horas para me deslocar, quando o trânsito está bom e as barcas ou a ponte não criam problemas. Se eu pudesse pagar pelos transportes mais caros, reduziria este tempo em apenas 30 preciosos minutos.

Como eu moro longe mesmo, tenho o "privilégio" de pegar o meu ônibus perto do ponto final, tanto na ida, quanto na volta, por isso consigo ir sentado.

Os tipos que pegam o mesmo ônibus que eu são bem variados: Tem o trocador que pensa que é animador de auditório, os estudantes sonolentos com mochila pesada, os fedorentos, que parecem não ter chuveiro em casa, a executiva arrumadinha, o maluco mal humorado que reclama da janela fechada, do motorista que para para apanhar mais passageiros, etc.

Eu aproveito o tempo da viagem para ler jornal, livros e até para escrever. Já preparei diversos textos para o meu blog e até mensagens, nos bancos dos ônibus e das barcas.

O que mais me incomoda na questão do transporte público, é o tempo que a gente perde indo de um lugar para o outro, seja pelo engarrafamento o pelo horário que os motoristas de ônibus precisam cumprir no seu itinerário.

Um dia eu compro o meu carro e me tornarei mais um a engarrafar as já apertadas ruas da nossa cidade. Hahahaha.

Beijos,

Marcos Vichi

Anônimo disse...

Márcia,

ADOREI suas observações sobre o metrô.
Podemos existir ou viver, você deixa claro que vive a vida !
A maioria das pessoas só reclama da vida, do calor, do meio de transporte. Raras as almas sensíveis que ainda param para observar a vida, as pessoas...
Você transformou o caos do metro em POESIA para seus leitores.
Ganhou mais uma leitora e admiradora!
bjs e parabéns ! Andrea Mendonça

Marcia Carvalho disse...

Andréa
Fico muito feliz com o seu comentário e por você ter gostado do texto.
Pode estar certa de que é um estímulo pra mim.
Bj!
Marcia

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