sábado, maio 22, 2010

O ABRAÇO DO AVÔ

Naquela noite, ela foi dormir cedo, de tanto cansaço. Acordou de madrugada e ficou mais de uma hora tentando dormir e não conseguiu.

Pegou os óculos, tateando a mesinha de cabeceira no escuro. Levantou, ligou o computador e foi ver o que estava acontecendo no mundo virtual. Nada que despertasse interesse. Tirou os óculos. Chorou. Resolveu ler um pouco e pegou o livro que estava mais perto, por acaso, era a Bíblia. Abriu aleatoriamente em uma página e viu que, apesar das dores, estava fazendo o que era necessário naquele momento. Chorou mais um pouco, agradecida e aliviada, mas ainda triste.

Desligou tudo e resolveu voltar para cama. Dormiu, sonhou. Estava no quintal de uma casa antiga, conhecida. De repente, a porta se abre e ela vê o avô, que a chamava como nos tempos de menina. Corre para perto dele e recebe um abraço, que conforta e traz paz. Presta atenção para aproveitar cada instante daquele encontro: a textura da pele, o olhar, os poucos cabelos, o sorriso, a camisa azul, a calça clara. Não queria perder nenhum detalhe, nem sabia que estava com tanta saudade.

Acordou chorando, mas em paz. Descobriu que o abraço do avô era tudo o que ela precisava naquela madrugada. E ele veio abraçar a neta; só em sonho, mas veio.

Foi a segunda vez que ela sonhou com o avô, que falecera há quase vinte anos.


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