terça-feira, abril 17, 2012

DIVORTIUM AQUARUM


A sala era grande. Pé direito alto. Paredes brancas. Teto escuro. Chão de madeira, meio desgastado pelo tempo. Deveria existir uma porta. Não havia janelas, pelo menos não à primeira vista. Mas era clara. Não dava para saber de onde vinha a luz. Era uma luz difusa, suave, quase confortável.

Coisas flutuavam pela sala: objetos, lembranças, sensações.

Aqui e ali, pelo chão, pequenas ilhas exibiam diferentes cenários: uma casa no sítio, uma cachoeira no meio da mata, um pedaço de mar batendo nas pedras e espumando na areia, um céu estrelado numa noite sem lua, o sol nascendo atrás das montanhas azuis.

Ao fundo, encostada numa parede, uma estante guardava garrafas empoeiradas, de todos os tamanhos. Dentro delas, sentimentos. Quase escondida, uma das garrafas de vez em quando emitia um certo brilho, que conseguia vencer a camada de poeira e iluminar por um instante um pequeno espaço ao seu redor. As outras, já estavam apagadas.









Este texto foi inspirado pela obra "Divortium Aquarum" (foto acima), do artista José Rufino, exposta no CCBB-RJ.


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