quarta-feira, maio 25, 2011
O CARRO DO MEU VIZINHO
Moro num prédio antigo, construído no início dos anos 70. É feio por fora, mas os apartamentos têm cômodos espaçosos. Acho que na época não existia uma legislação que determinasse como a garagem deveria ser. Resultado: são 64 apartamentos e só 30 vagas espremidas na garagem.
Nela, tem carros pra todos os gostos: novos, velhos, pequenos, grandes. Mas tem um carro que se destaca: um carro preto, que embora não seja novíssimo, é o que mais tem cara de novo. Preto, brilhante, sem uma poeirinha... Todos os sábados, o dono passa o dia todo cuidando dele: lava, seca, aspira, abre o capô, liga o carro e fica atento a cada barulho que o motor faz... até os pneus recebem uma demão de "pretinho" e ficam lá, limpinhos, limpinhos!
O único problema é que o carro nunca sai da garagem.
E até ganhou semana passada uma cerquinha de correntes, para que ninguém se aproxime e encoste nele.
Quando eu era pequena, eu imaginava a vida meio como o filme Toy Story: se não tiver nenhum humano por perto, as coisas "vivem", tem sentimentos e conversam entre si... Se isso fosse verdade, imagino a tristeza do carro do vizinho: sempre lindo e bem cuidado, mas trancafiado numa garagem no subsolo de um prédio, onde não bate sol, vento, chuva, nada. E fico pensando no que leva o meu vizinho a ter um carro só por ter e não para aproveitar o que ele poderia proporcionar, como um passeio na orla numa noite de lua cheia, por exemplo.
Às vezes penso que eu ajo como o vizinho: pego os meus melhores sentimentos, habilidades e talentos e deixo trancafiados em algum lugar escuro dentro de mim. Eu sei que eles estão lá, prontinhos para serem usados e esperando por isso, mas por alguns motivos, conscientes ou não, eu não aproveito o que tenho de melhor.
Sinto que está na hora de mudar isso. E me cobro esta mudança. Preciso abrir a minha garagem e levar a minha alma para sentir o vento que vem do mar e a chuva fresca da floresta... Mas onde deixei a chave?
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