Estou completando seis meses no meu trabalho no Centro do Rio. O meio de transporte que uso para ir e voltar é sempre o metrô. São em média vinte minutos para ir e mais vinte para voltar, de segunda à sexta, sempre no horário de rush, o que significa que pego metrô lotado todos os dias e que posso contar nos dedos de uma das mãos as vezes em que pude ficar sentada.
Os problemas que o Metrô Rio apresenta todo mundo já conhece: superlotação, ar condicionado insuficiente, inúmeras paradas entre uma estação e outra enquanto “estamos esperando a normalização do tráfego à frente”.
Mas não é sobre isso que quero falar. Quero contar aqui algumas observações que fiz nesses seis meses convivendo com muito mais pessoas dentro do Metrô do que a física diz ser possível.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas que lêem durante a viagem. Algumas ficam dentro do vagão por duas estações, mas mesmo assim, aproveitam esse momento para ler. E se lê de tudo: bíblias, jornais, livros, revistas de notícias, revistas de fofocas, apostilas de cursos. Percebi também a grande quantidade de livros religiosos, principalmente os espíritas.
A segunda coisa é sobre o vagão destinado às mulheres. Aliás, aqui são duas observações. O vagão das mulheres é muito mais barulhento do que os vagões mistos. O burburinho por vezes beira o insuportável. No fim do dia, é até um pouco menor, mas, incomoda mesmo assim. A outra coisa sobre o vagão feminino é que, embora a idéia é que fosse um espaço destinado a proteger as mulheres do assédio físico quando o vagão está cheio, muitas mulheres preferem ir no misto, pois alegam que o assédio de outras mulheres é muito mais agressivo do que o dos homens nos vagões mistos.
Ainda sobre o vagão das mulheres, é absurda a quantidade de homens que entram nele e fingem que não sabem que estão num lugar onde não deveriam; dizem que só perceberam depois que já tinham entrado e as portas se fecharam. Ora, se perceberam só depois das portas se fecharem por que não trocaram de vagão na estação seguinte? Eu acho que o vagão feminino deveria ser destinado às mulheres durante todo o dia, e não somente nos horários de rush. Afinal, se tem menos gente circulando, qual o problema em se destacar um vagão durante o dia todo? E também acho que ele deveria ser diferente dos outros, pintado por dentro e por fora de uma forma que até mesmo os mais distraídos percebessem que ali homem não deveria entrar. Embora o vagão exclusivo seja um direito garantido por lei, eu quase não o uso, por concordar a respeito do assédio agressivo e me sentir muito incomodada pelo barulho da mulherada.
A terceira observação é sobre a “cara” do brasileiro. É incrível a diversidade do nosso povo. Tem gente de todas as cores, alturas, formatos, feitios. Acho isso muito, mas muito bonito mesmo.
A quarta observação é quanto o sapato diz sobre uma pessoa. De modo geral, quase sem exceção, só de olhar o sapato/sandália dá pra saber como a pessoa se veste, como é o cabelo e, no caso das mulheres, a maquiagem. Parece que o que usamos nos pés acaba sendo uma grande fonte de informação sobre cada um de nós.
A quinta coisa que me chama a atenção é que grande parte das pessoas usa fone de ouvido, e, normalmente, com um volume muito alto. Acho que daqui a alguns anos, quase todos estarão apresentando problemas de audição, se é que já não os tem.
A sexta observação é que a maioria dos homens usam camisas listradas.
Pra terminar, uma observação boba: existem muito mais cores de esmalte do que eu poderia imaginar...
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