Esse texto eu escrevi ontem, 21 de outubro de 2007
Eu tenho visto pouquíssima coisa na TV. TV aberta nem lembro mais que existe. Na TV paga, uma vez ou outra eu encontro algo que ainda dá para ver.
Essa semana eu estava vendo o canal People & Arts e vi a chamada de um programa que passaria hoje, o Extreme Makeover – reconstrução total. A idéia do programa é fazer uma reforma, ou melhor, construir uma casa nova para alguma família necessitada. O desafio é fazer isso em uma semana, mas com o sistema de construção americano, é bem mais fácil do que se fosse feito como nós, brasileiros, construímos nossas casas. Eu já tinha visto esse programa algumas vezes e achei até interessante. Mas a chamada que eu vi durante a semana me fez querer de verdade esse episódio.
Bem, a família era composta pela mãe, Susan Tom e por suas seis filhas, todas adotivas, todas com graves problemas de saúde e/ou deficiências físicas. Além das meninas, ela também tinha adotado um menino portador de uma grave doença dermatológica, que acabou causando a sua morte poucos meses antes do programa ser gravado.
As doenças e deficiências das meninas eram as mais variadas: duas delas nasceram sem as pernas; uma possuía algum tipo de paraplegia; outra passou por uma grave cirurgia cerebral nos primeiros dias de vida; outra apresenta um retardo psicológico grave; outra sofreu graves queimaduras ainda bebê, que lhe causaram deformidade em todo o rosto, parte do corpo e perda de uma das mãos; outra possui algum tipo de artrite que impede o movimento das articulações das pernas e dos cotovelos.
Todas as meninas eram felizes, sorridentes, adaptadas a uma vida quase normal, gostando das mesmas coisas que as adolescentes “normais” gostam.
O que me fez chorar não foi a condição física delas. É lógico que ver pessoas assim me entristece, e muito. Principalmente, porque tendo a achar que elas não podem aproveitar a vida de uma maneira integral. Por pior que seja admitir isso, na verdade acho que sinto pena, e pena é coisa horrível de se sentir.
Mas o que é mais entristecedor é ver tantas pessoas com vidas tão menos complicadas mas que não sabem ser felizes. Pessoas que possuem tantas coisas boas e que não as valorizam. Pessoas que não sabem cuidar de si mesmas e muito menos do próximo.
Pensar no amor que Susan tem por suas filhas me faz pensar em tantas mães que leio no jornal que atiram seus filhos recém-nascidos em lagoas, em rios imundos... Me faz pensar na mãe que hoje, em Minas, trancou seu filho de menos de dois anos em casa e incendiou o imóvel.
Ver a família Tom, unida e feliz, apesar de todos os seus graves problemas, me faz pensar em tantas famílias que ao menor sinal de problemas, já se esfacelam...
O que me fez chorar é ver como as pessoas desistem tão facilmente umas das outras! Isso é muito triste!
Mas acho que também chorei por ver que ainda existe gente que luta para ser feliz, não importam as circunstâncias que as rodeiam.
Eu li uma frase do Ed René Kivitz que nunca vou esquecer. Era mais ou menos assim: “Os relacionamentos não dão certo. A gente é que faz com que eles dêem certo.” Aqui, por relacionamento, eu entendo todo o tipo de relacionamento, seja familiar, de amizade, sentimental, profissional...
Bem, cada um escolhe o que fazer com o que recebe da vida. E com a vida que recebe.
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segunda-feira, outubro 22, 2007
sexta-feira, outubro 19, 2007
METADE
Hoje eu só coloco esse poema.
Ele já diz muito... posso me calar e deixar que ele fale por mim.
Ele já diz muito... posso me calar e deixar que ele fale por mim.
METADE
(Oswaldo Montenegro)
“Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também."
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